sexta-feira, 3 de julho de 2020

Breve discurso niilista com cicatriz de falsa esperança fustigada pelo inverno.



Breve discurso niilista com cicatriz de falsa esperança fustigada pelo inverno.

Uma “rede social”, um blog, um canal de vídeo, são distrações que nos trazem a ilusão de que podemos realmente fazer alguma diferença no jogo político e no "teatro humano" ao expressarmos opiniões escancaradas no "mundo virtual" das aparências, o que não passa de engodo, tempo pelo ralo, pois, para quem realmente controla Estados e o Mercado, nossas opiniões não fazem nem "cócegas". Para "eles" somos meros números e nem isso talvez.
Antes da invenção das redes sociais a "democracia liberal representativa" mantinha "a ilusão" de forma mais arcaica, apostando no circo eleitoral periodicamente, o que continua obviamente. E as igrejas persistem com a propaganda de que uma entidade onipotente e onipresente, rancorosa, criadora do universo, se preocupa com nossas mazelas cotidianas e deprimentes problemas que o "sistema" nos joga nas costas ou que nós mesmos escolhemos para preenchermos horas, as quais, sem essas incomodações, poderiam nos lançar o "sem sentido" na cara.
O mercado seduz e engana o ego dos consumidores, mentindo-lhes que são relevantes, que se tiverem o produto “x” serão admirados e os coitados caem facilmente na magia da publicidade. Um celular novo, uma marca de cerveja ou vinho, uma foto para mostrar que o sujeito ainda existe e tem.

Somos explorados como trabalhadores, como eleitores, como crentes, como consumidores, como "cidadãos pagadores de impostos", militantes engajados, fanáticos bitolados, mantendo a máquina que nos mastiga a todo vapor.

Os planos dos "canalhas poderosos" são cuidadosamente lapidados por especialistas contratados a preço de ouro e programas de "inteligência artificial" rastreiam, moldam opiniões automaticamente, 24 horas por dia, em toda a rede, enquanto fora do "mundo virtual" as igrejas, Estados , partidos, indústria cultural e a mídia privada de massa, fazem a mesma coisa, fritam cérebros todos os dias aos milhões e há tempos (há muito e muito e muito e muito tempo, sob outras formas, variações do mesmo esquema, para ser mais “preciso”, hoje mais moderninho, com novas ferramentas geradas pelos próprios tolos maltratados…desde que surgiram pirâmides).
Nossas vozes e as palavras que lançamos perdem-se no turbilhão de bobagens nas linhas de fibras óticas e telas iluminadas que prejudicam nossos globos oculares. Nossas anêmicas "teorias", quando escapam tímidas do transtorno aconchegante de nossas mentes acanhadas, e se apresentam ao mundo exterior da selvageria declarada, são massacradas pela lava das banalidades, ofuscadas por imagens sedutoras, barulho dos arrotos da ganância dos burgueses, violência simbólica, censura brocha dos moralistas, abafadas ou simplesmente invisibilizadas, dado que não somos ricos, nem famosos, ou não acumulamos títulos e mesmo quando, para alguns, esse é o caso, tudo não passa de exibicionismo e tempo que se esvai, vaidade, bobagem, pois, quem controla o jogo "não está nem aí" com os "plebeus engraçadinhos” e o roteiro será seguido de forma ainda mais ridícula.

Os poderosos também seguem roteiros, mas compram liberdades agradáveis de acordo com suas preferências, com muita grana, com o sangue, sofrimento e trabalho dos subjugados, eles ditam as regras e o hedonismo chega a lhes ser entediante por lhes ser de fácil obtenção. Nem mesmo podemos falar muito sobre eles, pois nossa realidade é a da base da maldita pirâmide, melhor voltarmos a remoer nossos incômodos.
Podemos nos afogar no lamaçal das baboseiras a qualquer momento, pois nossos botes infláveis navegam em suas ondas, o oceano da besteira está por todo lado. Quando muitos caem é comum nem perceberem e continuarem boiando.
E nada faz muito diferença afinal...Até isto que escrevo certamente pouco vale e não fará muita "diferença", ou quem sabe para alguns, para os poucos que se importam (não, não fará muita diferença, são apenas palavras lançadas na rede, no mundo; "vaidade").

Podemos nos esconder em nossas cavernas individuais e personalizadas, mas, mesmo no mais bem construído e decorado esconderijo, lá nos encontrarão do lado de uma fogueira de ideias e nos puxarão de volta a esse enredo desprezível, nos obrigarão a tarefas enfadonhas pelo preço de nossa sobrevivência. E caso não fossem "eles" ou a "máquina", a nos atormentar, a natureza faria tal papel tirânico como realmente faz constantemente, não há como escapar. Há fuga só no fim (?). Nem isso sabemos com certeza e se houver será nada.
Temos ainda o arremedo de "contato", "links" no mundo virtual entre nós. Nos observamos, trocamos algumas ideias, tal contato pode chegar ao físico, pessoalmente (o que no momento está bem prejudicado por um vírus e antes já estava bem corroído pelos embates ideológicos toscos). Infelizmente preciso lembrar que, a própria linguagem que usamos para tentarmos nos entender é um mundo virtual cheio de regras e a censura está a espreita nos arbustos dos valores e nos ouvidos e olhos dos burocratas mesquinhos da correção, aqueles que gozam com a fustigação das normas sobre quem tenta viver um mínimo instante sem podar-se (mesmo quando sem consciência disso).

muitos inimigos na trincheira. Moralistas corretores, propagadores de ideologias dos tiranos, funcionários da máquina, pregadores de doutrinas que matam lentamente a criatividade e infectam mentes...Muitos...Muitos...
E nós? Há uma tribo? Há possibilidade de construirmos algo entre nós? Somar forças para fazermos os carrapatos engomados sentirem o peso da massa? Arquitetar nosso mundo paralelo longe dos reizinhos tirânicos, vermes do capital? Deveríamos focar mais nisso, seria uma alternativa, porém, isso demanda tempo, cuidado, dedicação, energia e vontade. O comodismo é sempre a saída mais prática e está muito frio.

Paulo Vinícius
(mais um indivíduo da espécie humana). 




Nenhum comentário:

Postar um comentário