Breve
discurso niilista com cicatriz de falsa esperança fustigada pelo
inverno.
Uma “rede social”, um blog, um canal de vídeo, são distrações que nos trazem a ilusão de que podemos realmente fazer alguma diferença no jogo político e no "teatro humano" ao expressarmos opiniões escancaradas no "mundo virtual" das aparências, o que não passa de engodo, tempo pelo ralo, pois, para quem realmente controla Estados e o Mercado, nossas opiniões não fazem nem "cócegas". Para "eles" somos meros números e nem isso talvez.
Antes
da invenção das redes sociais a "democracia liberal
representativa" mantinha "a ilusão" de forma mais
arcaica, apostando no circo eleitoral periodicamente, o que continua
obviamente. E as igrejas persistem com a propaganda de que uma
entidade onipotente e onipresente, rancorosa,
criadora do universo, se preocupa com nossas mazelas cotidianas e
deprimentes problemas que o "sistema" nos joga nas costas
ou que nós mesmos escolhemos para preenchermos horas, as quais, sem
essas incomodações, poderiam nos lançar o "sem sentido"
na cara.
O
mercado seduz e engana o ego dos consumidores, mentindo-lhes que são
relevantes, que se tiverem o produto “x” serão admirados e os
coitados caem facilmente na magia da publicidade. Um celular novo,
uma marca de cerveja ou vinho, uma foto para mostrar que o sujeito
ainda existe e tem.
Somos
explorados como trabalhadores, como eleitores, como crentes, como
consumidores, como "cidadãos pagadores de impostos",
militantes engajados, fanáticos bitolados, mantendo a máquina que
nos mastiga a todo vapor.
Os
planos dos "canalhas poderosos" são cuidadosamente
lapidados por especialistas contratados a preço de ouro e programas
de "inteligência artificial" rastreiam, moldam opiniões
automaticamente, 24 horas por dia, em toda a rede, enquanto fora do
"mundo virtual" as igrejas, Estados , partidos, indústria
cultural e a mídia privada de massa, fazem a mesma coisa, fritam
cérebros todos os dias aos milhões e há tempos (há
muito e muito e muito e muito tempo, sob outras formas, variações
do mesmo esquema, para ser mais “preciso”, hoje mais moderninho,
com novas ferramentas geradas pelos próprios tolos maltratados…desde
que surgiram pirâmides).
Nossas
vozes e as palavras que lançamos perdem-se
no turbilhão de bobagens nas linhas de fibras óticas e telas
iluminadas que prejudicam nossos globos oculares. Nossas
anêmicas "teorias",
quando
escapam tímidas do transtorno aconchegante de nossas mentes
acanhadas, e se apresentam ao mundo exterior da selvageria declarada,
são
massacradas pela
lava das banalidades,
ofuscadas por imagens sedutoras, barulho dos
arrotos da ganância dos burgueses,
violência
simbólica, censura brocha dos moralistas, abafadas
ou simplesmente invisibilizadas, dado que não somos ricos, nem
famosos, ou não acumulamos títulos e mesmo quando, para alguns,
esse é o caso, tudo não passa de exibicionismo e tempo que se
esvai, vaidade,
bobagem, pois,
quem controla o jogo "não está nem aí" com os "plebeus
engraçadinhos”
e o roteiro será seguido de forma ainda mais ridícula.
Os
poderosos também seguem roteiros, mas compram liberdades agradáveis
de acordo com suas preferências, com muita grana, com o sangue,
sofrimento e trabalho dos subjugados, eles ditam as regras e o
hedonismo chega a lhes ser entediante por lhes ser de fácil
obtenção. Nem mesmo podemos falar muito sobre eles, pois nossa
realidade é a da base da maldita
pirâmide,
melhor voltarmos a remoer nossos incômodos.
Podemos
nos afogar no lamaçal das baboseiras a qualquer momento, pois nossos
botes infláveis navegam em suas ondas, o oceano da besteira está
por todo lado. Quando muitos caem é comum nem perceberem e
continuarem boiando.
E
nada faz muito diferença afinal...Até isto que escrevo certamente
pouco vale e não fará muita "diferença", ou quem sabe
para alguns, para os poucos que se importam (não, não fará muita
diferença, são apenas palavras lançadas na rede, no
mundo;
"vaidade").
Podemos
nos esconder em nossas cavernas individuais e personalizadas, mas,
mesmo no mais bem construído e decorado esconderijo, lá nos
encontrarão do lado de uma fogueira de ideias e nos puxarão de
volta a esse enredo desprezível, nos obrigarão a tarefas enfadonhas
pelo preço de nossa sobrevivência. E caso não fossem "eles"
ou a "máquina", a nos atormentar, a natureza faria tal
papel tirânico como realmente faz constantemente, não há como
escapar. Há fuga só no fim (?). Nem isso sabemos com certeza e se
houver será nada.
Temos
ainda o arremedo de "contato", "links" no mundo
virtual entre nós. Nos observamos, trocamos algumas ideias, tal
contato pode chegar ao físico, pessoalmente (o que no momento está
bem prejudicado por um vírus e antes já estava bem corroído pelos
embates ideológicos toscos). Infelizmente
preciso lembrar que, a própria linguagem que usamos para tentarmos
nos entender é um mundo virtual cheio de regras e a censura está a
espreita nos arbustos dos valores e nos ouvidos e olhos dos
burocratas mesquinhos da correção, aqueles que gozam com a
fustigação das normas sobre quem tenta viver um mínimo instante
sem podar-se (mesmo quando sem consciência disso).
Há
muitos
inimigos
na trincheira. Moralistas
corretores, propagadores de ideologias dos tiranos, funcionários da
máquina, pregadores de doutrinas que matam lentamente a criatividade
e infectam mentes...Muitos...Muitos...
E
nós? Há uma tribo? Há
possibilidade de construirmos algo entre nós? Somar forças para
fazermos os carrapatos engomados sentirem o peso da massa? Arquitetar
nosso mundo paralelo longe
dos reizinhos tirânicos, vermes do capital?
Deveríamos focar mais nisso, seria uma alternativa, porém, isso
demanda tempo, cuidado, dedicação, energia e vontade. O comodismo é
sempre a saída mais prática e está muito frio.
Paulo
Vinícius
(mais um indivíduo da espécie humana).
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