domingo, 16 de abril de 2017

A farsa do "Liberalismo Econômico" e o teatro da "Democracia Liberal".



A farsa do “Liberalismo Econômico” e o teatro da “Democracia Liberal”.
É muito “curioso” quando defensores do “liberalismo econômico” protestam nas redes sociais, e até nas ruas, contra corrupção, sendo que a corrupção é consequência inevitável do capitalismo que defendem e isso pode ser constatado em uma rápida análise:
-os partidos que estão no poder e que vencem a maioria das eleições são os que mais recebem dinheiro de empresas privadas para as campanhas de seus candidatos (usando cara publicidade para iludir o eleitorado) e isso independente da cor da bandeira, da legenda, ou ideologia que fingem defender;
-grandes empresas privadas financiam partidos e políticos visando algum lucro futuro, sendo boa parte desse “patrocínio” realizada pela via do chamado “caixa 2”;
-grandes empresas financiam políticos não apenas por “esperarem um retorno”, mas, seguindo uma estratégia de interferência na política institucional, o que, sem dúvida, lhes garantirá um bom lucro se suas táticas e estratégias obtiverem êxito, mas, isso, também, contempla preferências ideológicas da parte de quem controla essas mega empresas (se bem que alguém aqui poderia afirmar que uma coisa envolve a outra nesse caso, o que é verdade);
-muitas empresas são multinacionais e bancos que ganham, também, com a perpetuação da infame “dívida pública” diante da qual jamais algum governo ousou levantar uma auditoria no Brasil;
-as mesmas empresas , que interferem “indiretamente” na política, são sonegadoras de impostos, sendo que o Brasil perde mais de 400 bilhões anualmente em sonegação por parte de grandes empresas privadas, as quais, também, recebem muitas vezes isenções de governos os quais financiaram;
-muitos deputados, vereadores, senadores, governadores, prefeitos, ministros, acusados de corrupção, são empresários ou grandes latifundiários ou ainda ex executivos de grandes empresas privadas;
-os políticos patrocinados por empresas privadas sabotam, dentro do Estado ou em instâncias da política institucional, serviços públicos e empresas Estatais que ainda eram úteis à classe trabalhadora do país (depois empresas privadas vão abocanhar esses “nichos” de mercado abandonados pelo Estado) e fazem o possível para prejudicar os direitos dos trabalhadores(as) para benefício das empresas que os financiam.
No capitalismo o Estado é ferramenta da classe burguesa (bancos, empresas, grandes corporações) para manter seu controle sobre a classe trabalhadora e isso é algo já muito denunciado tanto por marxistas quanto por anarquistas (socialistas libertários).
O “livre mercado ” é um engodo, pois, as grandes empresas controlam a política e engolem as pequenas e, se somar a isso um Estado fraco (fraco onde devia ser forte, mas, forte em seu aspecto repressor, desejo dos liberais que defendem o liberalismo econômico) e que não representa os interesses da maior parte da população ( os (as) trabalhadores (as) e seus filhos (as)) – o que é consequência do peso da ideologia liberal econômica combinada ao conservadorismo político e moral (o chamado “neoliberalismo), sobre a política institucional- não há como fiscalizar de forma efetiva e imparcial todos os esquemas de corrupção que embalam a farsa da “democracia liberal representativa”, tendo em vista, também, que a mídia privada de massa (grandes empresas que vivem da propaganda de outras grandes empresas e da “grana” liberada pelo Estado por intermédio de políticos os quais auxiliaram) espalha a ideologia da classe dominante, gerando uma situação em que a população fica “perdida” em um mar de desinformação (há ainda o papel de “controle ideológico” exercido por muitas igrejas que , também, patrocinam políticos); dessa forma, as empresas que visam apenas lucro (e, muitas vezes, vendem até produtos contaminados em nome do lucro, tais como: carne estragada, leite adulterado, verduras repletas de agrotóxicos, alimentos com produtos cancerígenos, transgênicos não testados…) controlam a sociedade, sugam o dinheiro dos impostos pagos pelo povo (quem mais paga impostos são os(as) trabalhadores(as)) através da absurda “dívida pública” e em obras superfaturadas, as quais realizam por intermédio de fraudes em licitações armadas por seus fantoches políticos. Mas, para disfarçar a palhaçada, os liberais preferem chamar a isso tudo de “corporativismo”, o que nada mais é que “o capitalismo real e selvagem” na prática !
É interessante, também, destacar, que muitos hoje, no Brasil, se dizem adeptos da ideologia liberal, mas, esquecem de aspectos importantes do desenvolvimento do pensamento liberal nos últimos séculos, demonstrando desconhecimento sobre a própria história dessa corrente de pensamento que se manifestou nos campos político, filosófico, cultural, moral e não apenas no campo econômico. Identificam, por exemplo, a proposta dos “direitos humanos” com o pensamento socialista (em especial na linha marxista), sendo que a “declaração universal dos direitos humanos” é, sem dúvida, produto de ideias liberais no campo moral, atreladas à defesa do modelo liberal de democracia, o que na prática, sabemos, não se realiza, sendo apenas uma bela encenação jurídica, mas, certamente podemos reconhecer que sem isso a situação poderia estar bem pior nas sociedades ocidentais subdesenvolvidas, exploradas pelas grandes potências capitalistas (também ocidentais) controladas por mega corporações; podemos dizer que ainda há alguma possibilidade de jogar, nesse âmbito das leis, com as incoerências do sistema, embora, essa possibilidade esteja ficando cada vez mais fraca nos últimos anos nesse país. Mas, o curioso, ou bizarro, é que hoje o conservadorismo, e a ganância capitalista voraz, vem destruindo de forma dedicada até mesmo as singelas promessas do liberalismo clássico, as quais alimentaram anseios revolucionários no passado e geraram as bases das constituições das modernas democracias ocidentais; tais promessas obviamente podem ser vistas como meras enganações, mas, nem mesmo essas ilusões foram poupadas pelo “darwinismo social” ostentado pelos fundamentalistas do “neoliberalismo”, entre os quais identificamos militantes pobres ainda iludidos, especialistas acadêmicos contratados para a defesa do discurso ideológico e espertos capitalistas que sabem muito bem que tudo não passa de um grande engodo, um teatro, uma propaganda para ludibriar.
De certa forma o endurecimento do discurso liberal (não apenas entre “autodenominados” liberais nas sociedades subdesenvolvidas, mas, também entre destacados, embora, ridículos, atores políticos nas potências capitalistas) soa como uma tentativa de escancarar, desvelar a hipocrisia do sistema e assumir suas incoerências como ideais, como o que realmente “deve ser assim e danem-se!”. Podemos dizer que o conservadorismo somado ao liberalismo econômico, a ideologia propagada hoje por boa parte da Direita no mundo todo, é um sinal de que aqueles que controlam o mundo hoje estão chegando a conclusão de que não é necessário mais suavizar e disfarçar a exploração e que, com a posse das armas e das tecnologias para propagação ideológica (televisão, rádios, revistas, jornais, internet) e monitoramento (por intermédio de celulares, computadores, internet, câmeras espalhadas por todos os cantos das cidades), podem moldar com mais eficiência as mentalidades os comportamentos e reprimir qualquer sinal de rebeldia com eficiência na violência. Nesse ritmo encontraremos a contemplação no âmbito do discurso do que realmente acontece na realidade das sociedades afundadas no capitalismo. Por outro lado ainda há tentativas de distorcer fatos e apostar no chulo revisionismo histórico e deturpação de conceitos básicos, por exemplo: alguns movimentos políticos de Direita, certamente patrocinados por mega corporações, voltados para persuadir e cooptar a juventude, insistem em afirmar coisas como : “o capitalismo é um mercado de trocas voluntárias” ou ainda “o comunismo matou milhões de pessoas”, “nazismo é Esquerda socialista” (executivos da Bayer, BASF e Mercedes Benz, devem rir avidamente sempre que algum cretino grita algo desse naipe), etc; tais bizarrices retóricas são espalhadas intensamente nas redes sociais e meios de comunicação de massa controlados pela burguesia, no entanto, é irônico o fato de ao mesmo tempo afirmarem a competição, o egoísmo, a segregação, hierarquias de poder, a exploração, como “naturais” ou seja, descrevendo de certa forma o que há de pior no capitalismo como se fosse algo “belo.
Chega a ser risível afirmar que “capitalismo é um mercado de trocas voluntárias” diante do que realmente acontece e da definição clássica mais aceita sobre o que realmente é o modo de produção capitalista (modo de produção baseado na propriedade privada dos meios de produção por parte de uma classe denominada burguesia a qual controla direta e indiretamente não apenas a produção, mas, também, o Estado, explorando o trabalho da classe trabalhadora a qual, em troca de força de trabalho, recebe salário; sendo o objetivo de toda empresa capitalista a busca incessante por lucro.
O capitalismo necessariamente cria desigualdade e hierarquias de poder na sociedade, prioriza apenas o que gera ou pode gerar lucro, “coisifica” pessoas tratando vidas como descartáveis e mercadorias, ou objetos inanimados, como entidades que recebem maior consideração e valor do que quem as produziu ou as extraiu das entranhas da natureza).
A mentira espalhada por militantes fundamentalistas de Direita sobre o chamado “comunismo” é fácil de desconstruir lembrando o conceito fundamental de comunismo: etapa posterior a uma transformação socialista da sociedade capitalista (seja de cunho marxista ou anarquista); situação onde o Estado mesmo será superado e substituído por formas coletivas de autogestão, coletivização dos meios de produção, fim das hierarquias de poder, fim da divisão da sociedade em classes sociais, uso intenso do conhecimento construído pela humanidade para a promoção real da igualdade e liberdade em uma situação de harmonia com a natureza da qual a humanidade é manifestação consciente…Projetos que podem ser vistos hoje como utópicos, mas, não há dúvidas de que isso se aproxima de um ideal ético para a humanidade, diante do qual o discurso “liberal+conservador” de defesa do capitalismo não passa de um capacho sujo. Se um dia chegaremos ao comunismo, não sabemos, ninguém, creio, pode afirmar com certeza, mas, o fato é que isso jamais foi realizado em grande escala em parte alguma do globo e portanto a crítica ao comunismo realizada por “liberalóides” não passa de uma falácia tosca; seria mais inteligente uma crítica voltada para o uso do discurso ideológico socialista usado para controle social em regimes “totalitários” (Como a Coréia do Norte), porém, reconhecendo que há uma diferença entre a propaganda ideológica usada para controle da sociedade e a realização dessas propostas, ou ainda uma crítica contra as supostas tentativas de colocar em prática planos socialistas por governos e partidos que se diziam “socialistas” e identificar, de forma sensata, suas falhas, reconhecendo, também, o que houve de positivo nessas experiências (imagino que sempre é possível identificar alguma coisa positiva, mesmo no próprio liberalismo, nem que seja como exemplo do que “não é recomendado fazer”).
A Direita que insiste em se apresentar como “liberal” em muitas democracias capengas ocidentais, em especial no Brasil, chega ao extremo de resgatar uma “caça às bruxas” um macartismo delirante carregado de contrapropaganda estadunidense da época da “guerra fria” e desejam até mesmo censurar professores em escolas públicas e fazer as legislações trabalhistas retrocederem ao século XIX e tudo isso diante de uma Esquerda fragmentada, paralisada, embriagada com pós-modernices, ruminando táticas dos primórdios do movimento socialista, delirando em utopias que não condizem com a realidade contemporânea (ou que pelo menos estão muito distantes das possibilidades atuais) e remoendo ainda tristemente o fim da ex URSS.
Mas, apesar de toda a “palhaçada” que já vimos ser o teatro liberal, o esquema continua funcionando e nesse jogo os(as) trabalhadores(as) continuam explorados e iludidos, como força de trabalho, como eleitores e como consumidores!
Paulo Vinícius
(Professor de Filosofia e Sociologia, Licenciado em Filosofia, Bacharel em Ciências Sociais; Especialista em Pensamento Político)