terça-feira, 27 de maio de 2014

A decadência do bolchevismo e o retorno do socialismo libertário. (breves constatações)


A decadência do bolchevismo e o retorno do socialismo libertário. (breves constatações)

A "esquerda" (e me refiro aqui aos movimentos e partidos que defendem ou possuem alguma ligação com o que chamamos "socialismo" e que ostentam , pelo menos em seus discursos, a busca pela igualdade e liberdade , bem como a autonomia e emancipação da classe trabalhadora e fim da exploração do trabalho...) vive uma crise de referencias , uma crise de paradigmas , consequência da corrosão das doutrinas bolcheviques (os vários trotskysmos, o stalinismo, as versões do leninismo ...) e o fim das ilusões com relação aos chamados países do "socialismo real" ( que na prática muito pouco tiveram ou têm de socialistas) . Embora, muitos ainda insistam na ostentação de um discurso que já se demonstrou falho e nada positivo para a classe trabalhadora (o discurso das vanguardas bolcheviques), é clara a crise da esquerda na era da globalização do mercado capitalista. A velha esquerda não consegue mais trazer respostas convincentes para animar os trabalhadores para o enfrentamento , não consegue mais mobilizar com eficiência , não tem mais ousadia ou coragem para enfrentar doutrinas anti-socialistas , essa velha esquerda se corrompeu e se enrolou com grupos de direita e aceitou as regras de um jogo onde perdeu sua bandeira.
Mas, apesar da crise da esquerda bolchevique (parte da qual se perdeu em radicalismos dogmáticos e outra parte se dissipou na social democracia...), podemos presenciar uma volta (no sentido de "destaque", recuperar vigor e relevância...) de uma esquerda combativa e que quase foi consumida pelo deslumbramento que as supostas revoluções socialistas causaram na classe trabalhadora no século passado ( as "revoluções" que usaram a ideologia socialista como discurso de persuasão e manipulação da opinião das "massas" para levar vanguardas de partidos ao poder e lançaram populações à tirania estatal) mas, essa esquerda da qual falo não se rendeu, permaneceu como ideal inabalável. Falo do retorno de uma esquerda radical em seus ideais mais caros, de um retorno do anarquismo, um anarquismo reformulado, mas, também do tradicional socialismo libertário; as propostas que esses movimentos trazem não são aplicáveis a grandes territórios, mas, podem e são colocadas em prática em pequena escala , com frequência e podem se espalhar. São propostas de organização do poder popular, assembleias populares, associações de bairro, cooperativas, economia solidária, permacultura, agricultura de subsistência, disseminação de conhecimento no meio virtual, educação libertária, blocos de luta, etc; muitas dessas iniciativas hoje estão mantendo o vigor de uma esquerda que resiste e seduzem até mesmo partidos tradicionais de esquerda que haviam esquecido um pouco desse trabalho na base, porém, a proposta libertária tem algo a mais:
é, além de uma ideologia política e filosófica, uma referência ética para a ação, que pode mudar a forma como encaramos a política e as lutas tradicionais da esquerda , pois, de forma diversa da tradição bolchevique, a preocupação anarquista está voltada para a busca de autonomia somada à solidariedade de classe, mas sem negar a liberdade individual, ou seja, o indivíduo é respeitado como sujeito criador e capaz de pensar de forma independente, sua participação no movimento não é meramente decorativa ou de "soldado" guiado por uma "vanguarda", mas, sim de sujeito ativo que irá somar forças com os demais nesse processo.
-É claro que as propostas libertárias de nada valem se não houver o enfrentamento direto contra as amarras do mercado capitalista . O modo de produção e as ideologias hegemônicas certamente irão resistir a qualquer tentativa de modificação do sistema e assim acontece , como podemos presenciar cotidianamente em nossa sociedade, no entanto, hoje temos acesso a novas tecnologias que podem auxiliar na disseminação de ideias e aproximar pessoas, podemos trabalhar de forma mais eficiente na desconstrução das ideologias (pois, não são apenas o liberalismo e neoliberalismo o problema, doutrinas religiosas e doutrinas políticas mais conservadoras, se somam a essas ideologias e amarram as pessoas, impedindo o afloramento do pensamento crítico e livre...), ideologias essas que impedem a transformação social almejada , atrapalham a ascensão dos trabalhadores e a busca pelo fim da exploração ( ou pelo menos sua minimização...).
-É preciso reconhecer que é provável que as utopias não se realizem (isso é bem provável), mas que algumas são importantes como referências éticas para melhorarmos o que temos agora. O realismo é fundamental, mas não pode ser encarado como base crua para um pragmatismo político do "vale tudo pela governabilidade" ou para fazer valer uma ideologia. Podemos, espalhando conhecimento, mas, fundamentalmente tentando construir conhecimento onde for possível (em especial onde o conhecimento geralmente "não chega oficialmente", nas periferias ), promover algumas mudanças, mas, para tal é necessário rever a forma como encaramos a luta política e buscarmos uma democracia mais plena, dialógica, construída pelos trabalhadores e não por pretensos representantes, oriundos de partidos patrocinados por grandes empresas que , no fim das contas, vão servir ao mercado capitalista e não a quem os escolheu ( o básico que todos nós já estamos cansados de saber...).
-A política institucional não é o único nem , talvez, o melhor caminho, e a esquerda precisa superar velhos discursos bolcheviques dos "iluminados guias da massa" , isso não serve mais e nunca serviu, na verdade.

Paulo Vinícius 

quarta-feira, 5 de março de 2014

sobre uma "onda conservadora" no Brasil.

sobre uma "onda conservadora" no Brasil.

-Tem toda razão quem diz que o conservadorismo e a intolerância de direita há séculos esteve no palco político da história brasileira, porém, por alguns anos, "aparentemente", a direita conservadora tentou disfarçar o que realmente defende, com discursos menos agressivos e não tão escancarados, por alguns anos tentaram aliviar o discurso e não abrir totalmente, e sem pudor, a estupidez, nos meios de comunicação e no parlamento... Agora parece que voltaram a assumir, sem vergonha, algumas ideias retrógradas, sem meias palavras, declaram abertamente o que desejam , berram sem nenhuma tentativa de disfarce, nomeiam inimigos, distorcem termos , promovem a intolerância, buscam apoio na religião, recorrem a malabarismos teóricos para distorcer a história ( a mais recente modinha agora é dizer que nazismo é igual a comunismo); assumem felizes o capitalismo e promovem uma nova "caça as bruxas" contra a esquerda e movimentos sociais; tentam reconquistar parte da juventude (a nova chapa do DCE da UFRGS é um exemplo...) ; só falta agora, alguns voltarem a balançar uma bandeira com uma suástica estampada...
Desse ponto de vista há sim o "retorno de uma onda conservadora" no Brasil; ou seja, parece que estamos vendo um retorno ao passado, uma volta ao clima pesado de poucas décadas atrás... Basta observar debates em comunidades na internet, comentários em revistas,blogs ultra-conservadores, o número de pessoas que defendem a volta da ditadura e gritam que "bandido bom é bandido morto" , tentativas de fundar um partido pró-militares, tentativas de fundar um partido "anarco-capitalista" (uma grande piada!) e outras coisas parecidas; o aumento no número de seitas evangélicas , homofobia , repressão nas ruas contra manifestações , machismo escancarado em sites de internet, pastores investindo na política pra valer, deputados racistas e bitolados querendo desesperadamente controlar a "comissão de direitos humanos" e com apoio de muitos eleitores... Enfim, isso não está cheirando nada bem!

-mas, talvez, seja apenas mais uma questão de "aumento da possibilidade de divulgação de ideias e opiniões" através da internet, principalmente, o que faz com que toda a m... venha à tona sem censura...



P.Vinícius



Sobre "Golpes de Estado" e "revoltas populares " no Brasil (ou : "porque falar em "golpe comunista" no Brasil não faz nenhum sentido) .


Sobre "Golpes de Estado" e "revoltas populares "no Brasil (ou: " porque falar em "golpe comunista no Brasil" não faz nenhum sentido) .

- É possível um golpe de Estado sem o apoio ou "aval" do exército, no Brasil ?
Vamos fazer uma rápida e "superficial" análise:

-Mesmo que a maioria da população saia as ruas, apoiando um partido x em uma tentativa "aparentemente ilegítima" de tomada de poder, se as "forças armadas" não aceitarem esse processo, podem, com uso da força, aniquilar uma revolta de uma multidão "desarmada" ou equipada apenas com "paus , pedras e coquetéis Molotov" ; a situação poderia ser um pouco diferente, caso a população estivesse devidamente armada para um embate com o exército, mas, isso realmente não é o caso no Brasil. Agora, se a população, em sua maioria, apoiar a tomada de poder por um partido x, seria ilegítima "essa tomada de poder" ou ilegítima seria a reação contra tal ?

-Sem apoio do exército um "golpe de Estado" dificilmente pode ser consolidado por um grupo "desarmado" apoiado por uma "população desarmada", isso é muito improvável. A ex URSS acabou , pois, entre outros motivos, o exército vermelho permitiu isso, foi conivente com a "revolta" popular e por isso não houve nem mesmo derramamento de sangue, caso contrário, a situação teria sido muito diferente...

-No Brasil, quando escutamos a "direita conservadora, pseudo-nacionalista" e alguns milicos, nostálgicos da ditadura militar, falarem em "golpe comunista" do PT, só podemos rir diante disso:

Primeiro: é nítido que o PT está, há anos, se distanciando cada vez mais da esquerda (apesar de alguns avanços em algumas áreas sociais, se comparado a governos anteriores bem piores...) e , apesar do apoio de boa parte da população e parte da direita conservadora, também, (PMDB, Sarney, Maluf, Collor, alguns grandes empresários...) , o PT não tem, obviamente, o apoio de 100% do eleitorado brasileiro, aliás, as recentes manifestações nas ruas demonstram muito bem que há sim muita oposição de esquerda e de direita.
Segundo: se algum grupo poderia dar um "golpe de Estado" no Brasil, esse grupo teria que ser armado e muito bem armado, quem tem essa possibilidade são os militares, com o apoio da direita teriam boa parte da mídia e da população "de opinião conservadora e aqueles ingênuos seduzidos pela propaganda ideológica" .
-A única possibilidade de um partido como o PT dar um "golpe de Estado" mesmo já estando no controle do executivo, no Brasil, seria tendo o apoio do exército ou tendo uma "milícia" própria ( o que é absurdo , pelo menos não há informação sobre isso -risos-) . Se o PT tem o apoio do exército, aí sim a coisa pode ficar séria (isso na muito exagerada hipótese de que há uma intenção de segurar o "poder" na marra) , mas, se , como tudo indica, não é "bem por aí a coisa", se setores do exército estão reclamando do governo e falando de forma "curiosa" em "combate ao golpe comunista", então, isso na verdade sugere que não faz o menor sentido a direita berrar "estupidamente" que estamos na iminência de um "golpe comunista no Brasil"!!! Essa hipótese é totalmente risível e absurda! Como o PT daria um "golpe" sem o apoio do exército !?

-Vamos ser realistas: mesmo na hipótese de que alguém tente algo parecido com um "golpe comunista" (o que seria isso afinal? uma revolução socialista ? a "direita" nem mesmo sabe o que está falando quando "solta essas asneiras"...), sem armas e sem o apoio do exército isso seria inviável! Chegamos a conclusão que a direita brasileira (com provável apoio de setores das forças armadas) é muito "burra" e que ela sim é que deseja dar um golpe! Ou ainda , se militares realmente estão (como parecem, infelizmente) defendendo essa opinião de que "estamos na iminência de um golpe comunista no Brasil" , ou eles não entendem nada de estratégia de guerra (o que seria muito estranho), e política, ou eles estão muito "mal intencionados" (ou "entendem" a política e estão usando uma estratégia "maquiavélica" para tentar convencer parte da população da necessidade de alguma ação mais drástica, e nada desejável (péssima) para quem simpatiza com a "democracia") !

P.Vinícius.



terça-feira, 4 de março de 2014

Um novo rumo na luta ...



Ano passado, participamos e ajudamos a construir uma difícil e desgastante greve do magistério no RS. Infelizmente, por conta das estratégias "terroristas" do governo Tarso ( ameaçando corte de ponto, adiar promoções , tocando uma reforma do ensino médio "goela abaixo" dos professores...) e ações de algumas correntes petistas dentro do sindicato, nos primeiros dias a adesão à greve foi realmente baixa, mas, aos poucos, com muito esforço, conseguimos mobilizar mais professores nas escolas de Santa Maria e somar o apoio de pais e muitos alunos!
Em Porto Alegre professores grevistas foram atacados pela PM, com bombas de gás e balas de borracha, por protestarem contra um governo que, ainda hoje, há mais de "1000 e tantos dias", não cumpre uma lei federal !
Ironicamente, quando a justiça determinou que o governo estadual não podia cortar o ponto dos professores( o que poderia levar ao fortalecimento da greve), a direção do sindicato dos professores e as correntes petistas (essas obviamente pró-governo) se aliaram para, imediatamente, dar fim a greve, mesmo contra a vontade de boa parte dos professores grevistas (aqui em Santa Maria, por exemplo, a assembléia da qual participei, havia decidido dar continuidade a greve). Em Porto Alegre uma assembléia realizada abaixo de um "lonão" em um estacionamento, sob sol abrasador, serviu de palco para o desfecho lamentável, deprimente e desanimador da greve. De forma "muito estranha" a direção do sindicato conseguiu aprovar o fim da greve, apesar da maioria presente parecer ser favorável a continuidade.

-Como disse na época, quando a greve de 2013 acabou de forma ridícula, sem conquistas relevantes e sugerindo uma traição do sindicato: o que aconteceu serviu para enfraquecer o próprio sindicato e desanimar gravemente os professores que ainda acreditavam no poder de luta e mobilização da categoria, e tudo cheirou a "conchavo entre correntes partidárias" ! Agora, 2014, falam novamente em greve dos professores, mas, então , pergunto : Como vamos convencer novamente os professores que se dedicaram e gastaram tempo, paciência, energia e até dinheiro nas manifestações do ano passado, a aderirem mais uma vez a uma greve, sob razoável suspeita que a direção do sindicato possa vir a "dar para trás" na hora "h", entregando o "jogo" ao governo !? E pior ainda, como convencer os professores que não aderiram à greve ano passado a, dessa vez, unir forças nessa outra empreitada , depois do exemplo negativo que ficou?!

-Precisamos ser realistas, o que aconteceu ano passado foi uma grande mancada do sindicato sim! Mas, não vamos desistir de nossas reivindicações , muito menos abrir mão dessa ferramenta de luta que é o sindicato, por conta dos erros de alguns grupos apenas. O sindicato é dos professores!

-É preciso uma união entre professores que realmente se preocupam com a questão da educação pública e com a profissão de educador, independentes de partidos políticos e seus interesses estratégicos e ou ideologias duvidosas! Uma união entre educadores, estudantes e todos que compreendam a importância da educação como uma base para a transformação social! É preciso um novo movimento pela educação , um movimento de esquerda sim, porém, direcionado para a busca de autonomia, para a valorização do pensamento crítico , da democracia dialógica, de um socialismo libertário e não mais preso as "carcomidas doutrinas mofadas" de uma velha "esquerda" que já demonstrou amar mais ao poder e ao Estado do que a causa dos trabalhadores!

Paulo Vinícius (professor de Filosofia e Sociologia)

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Explicando, de forma muito didática, como funciona o "conchavo" entre a "elite" dirigente e as empresas privadas, no Brasil capitalista.







Um dos maiores problemas da política (ou seria politicagem ? ) brasileira é que partidos e candidatos a cargos eletivos recebem financiamento privado de campanha, são patrocinados por empresas privadas que depois (se o sujeito ou partido vencer a eleição) vão cobrar o investimento realizado.
Os políticos em sua maioria (aparentemente todos os eleitos, quem sabe com algumas raríssimas exceções) estão comprometidos com as empresas privadas que os patrocinaram; se o Estado não funciona bem e o patrimônio público é administrado "porcamente", isso é o reflexo de uma estratégia capitalista de controle de mercado.

Exemplo:
A Empresa X que explora o mercado de "serviços de manutenção em estradas de rodagem ou rodovias" e lucra com a cobrança de pedágios, patrocina o candidato Fulaninho do Partido da Abobrinha. Fulaninho consegue fazer uma campanha vistosa e, com o auxílio de um bom "marqueteiro", pago com a grana emprestada pela Empresa X , consegue enganar os trouxas eleitores. Fulaninho, então, vence a eleição para um cargo eletivo importante e seu partido está agora no governo. A Empresa X começa a cobrar do Fulaninho e de seu medíocre e sacana Partido, exige que "dê o retorno" ao investimento feito na campanha. De forma "curiosa" o povão começa a notar que Fulaninho não está cumprindo suas promessas de campanha e que não asfaltou adequadamente as estradas como havia prometido.
As estradas começam a se deteriorar, Fulaninho mente que não há dinheiro para arrumar as estradas por culpa do governo anterior ( que fez algo parecido), mesmo que o dinheiro dos impostos pagos pelos "eleitores iludidos" seja mais do que o suficiente para isso ... As estradas se deterioram cada vez mais , muitos buracos surgem e, então, a solução apresentada por Fulaninho e seu Partido da Abobrinha ( que , esqueci de falar, é aliado, coligado com outras gangues partidárias tão sujas quanto) é a de recorrer a "tão milagrosa e prestativa" iniciativa privada. O governo de Fulaninho e seu Partideco, decidem "privatizar" (disfarçada muitas vezes de concessão)  as estradas, antes administradas pelo Estado, é aberto um edital de licitação, já previamente armado para a Empresa X vencer, e tãtãtãtã: temos agora a Empresa X ganhando milhões com a cobrança de pedágio dos "otários eleitores" (que pagam imposto sobre combustível, imposto do automóvel e uma série de outros impostos) que votaram no Fulaninho e em seu Partido da Abobrinha. Agora, a Empresa X (e seus acionistas de "bolsos cheios", muitos deles estrangeiros) está feliz e garante já um novo futuro patrocínio ao Fulaninho que vai tentar  reeleição e enrolar novamente o pobre povo iludido. E a história continua... Essa é a "maravilha" do capitalismo!

P.Vinícius

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Fascismo e Nazismo são ideologias de Extrema Direita.





Uma resposta (para leigos "não" fanáticos) rápida, sobre a pergunta: "Hitler (e o nazismo) era comunista ?"

Há uma tentativa apelativa de comparação entre a proposta comunista (e ou socialista) e o nazismo (ou fascismo alemão).
Muitos identificam o nazismo com o socialismo, usando como argumento "bobo" o nome do partido nazista. Embora, o nome do partido liderado por Hitler, fosse "Partido Nacional Socialista Alemão" ( sim o nome do partido era esse, lembre que, classificar a ideologia defendida e posta em prática por um grupo, apenas pelo nome ou legenda do partido, é uma grande ingenuidade; se fosse apenas pelo nome, então, teríamos que afirmar que, por exemplo,  o PDS dos anos 80 no Brasil -antes ARENA, hoje PP- foi um partido democrático e preocupado com questões sociais, o que não é o caso, já que todo cientista político sabe que o antigo Partido Democrático Social foi contra o movimento "Diretas Já! " e representava apenas os interesses dos grandes latifundiários e empresários que apoiavam a ditadura militar); basta uma breve análise da história do nazismo para ver com clareza que o discurso , a ideologia e a ação do "Partido Nacional Socialista Alemão" (que antes ainda teve o nome de "Partido dos Trabalhadores da Alemanha), nada tinham a ver com socialismo. Colocar o movimento socialista, e sua história, no mesmo patamar do infame nazismo, é um erro grosseiro, fruto de desinformação ou de "má intenção".
Afirmar que os nazistas eram "comunistas" seria o mesmo que alguém montar uma "associação de ateus" e sair pregando a palavra da bíblia, ou seja, uma coisa "sem sentido algum", abaixo veremos os motivos.

-Stalinismo, também, pouco tem a ver com Socialismo ( antes que alguém mencione as supostas "atrocidades da ditadura soviética"). Na maioria das vezes as opiniões ficam "na superfície da superfície".
Temos aí a diferença básica entre o uso de um termo e o que ele realmente representa; uma ideologia usada como propaganda é diferente de uma ideologia tomada como base de ação, por exemplo:
.Seria inconcebível um regime socialista combinado ao racismo ; os nazistas pregavam a superioridade de uma raça (conceito ultrapassado, hoje o correto do ponto de vista antropológico seria "etnia"; para a biologia, também, raça não existe entre humanos ),os nazistas pregavam o racismo, como poderiam ser comunistas !? Para o socialismo, em qualquer uma de suas vertentes, não há diferença ou grau de superioridade "étnico" entre trabalhadores (se alguém se diz socialista e sugere superioridade de "raça" entre trabalhadores , certamente não compreendeu bem o socialismo ou está muito equivocado...).


. Os nazistas eram radicalmente nacionalistas, o que vai contra o internacionalismo comunista; cultuavam um líder e a cúpula de um partido, seguindo uma exagerada disciplina militar, o que vai contra o socialismo original;  lembre que o partido nazista ainda chegou ao poder perseguindo comunistas (o episódio do Incêndio ao parlamento Alemão, cometido por militantes nazistas,  onde comunistas foram injustamente responsabilizados, é um exemplo) e com o apoio da burguesia alemã da época, que temia o avanço do socialismo na Europa.

.No regime nazista, empresas capitalistas foram mantidas sob controle de seus donos; todos os empresários que reconheciam o "regime", e em prol desse trabalharam, receberam apoio do Estado e continuaram com seus privilégios, já os descendentes de famílias judaicas, e ou opositores ao regime, foram perseguidos, perderam suas posses ou foram presos em campos de concentração; na Alemanha nazista (ou mesmo na Itália fascista) não havia nem sombra da proposta socialista de "autogestão" das indústrias por trabalhadores e sindicatos ou "coletivização dos meios de produção";
.Críticas similares as que fazemos ao "nazismo" ,também, valem para qualquer outro governo onde um líder máximo se perpetue no poder com o apoio de um Partido forte e hegemônico que acaba por se tornar o único no país (ex URSS com Stálin e Mao na China...) , mas, isso nada tem a ver com socialismo em nenhuma de suas versões tradicionais, nem mesmo a versão marxista! Os regimes totalitários que adotaram o nome de "socialismo" e ou "comunismo" e são classificados erroneamente como "socialismo real", além da propaganda ideológica, estão muito distantes do socialismo, mas, para perceber isso é preciso vencer a preguiça e ler um pouco, pesquisar os clássicos do pensamento socialista e não se restringir ao "materialismo histórico dialético".

(É verdade que na URSS experiências socialistas foram postas em prática em alguns momentos da história do regime soviético, porém, ao analisarmos pontos básicos nas propostas socialistas tradicionais notamos que faz muito mais sentido classificarmos o modelo soviético como um regime ditatorial de "Extrema Esquerda" e que poucas semelhanças teve com o ideal socialista, embora, para alguns, foi uma tentativa, uma experiência de realização socialista, frustrada. Muitas informações que temos sobre a ex URSS são confusas e passam muitas vezes pela interferência de ideologias, tanto as que fazem apologia - a propaganda oficial do Estado soviético, por exemplo -  , quanto as que criticam ou criticaram esse regime, isso foi muito comum durante o auge da guerra fria e ainda hoje temos dificuldades de encontrarmos informações confiáveis sobre o que "de fato" aconteceu durante o período stalinista, visto que os "embates ideológicos" entre Esquerda e Direita parecem perdurar ainda vigorosamente).

-O culto a um "ícone" ou líder, não combina com o socialismo, portanto, cultuar Marx (lembrando que esse pensador não foi o fundador do socialismo, que já existia como movimento mesmo antes de Marx se assumir como "socialista" ) ou qualquer outro pensador , não faz da pessoa um defensor da teoria socialista, temos aí mais um desvio da proposta socialista. É possível que pensadores autodenominados socialistas tenham, em algum momento, cometido erros ou afirmado coisas que vão contra a proposta socialista original, isso pode acontecer e acontece o tempo todo entre humanos, mas, pelo simples fato que "o culto a uma personalidade não faz parte da proposta socialista ", levar "ao pé da letra" o que algum proeminente pensador declarou, sem crítica alguma, idolatrando como a um "mito", seria desviar-se do socialismo.

-Tomar Estados totalitários como exemplo de "comunismo", também, não faz o menor sentido , pois: o Comunismo é uma etapa posterior a um processo socialista de transformação social , dissolução da luta de classes e do Estado, não há (e não existiu) exemplos de comunismo real em grandes territórios. Podemos, porém,  encontrar exemplos de comunismo entre comunas anarquistas e o comunismo primitivo de povos indígenas que ainda preservam culturas tradicionais, bem como algumas temporárias experiências socialistas em alguns países já governados por partidos defensores da ideologia socialista ou nas tentativas de tomada do poder pela classe trabalhadora através de revoltas populares (como durante a "Comuna de Paris" , por exemplo) .

-Há sim algumas semelhanças entre regimes totalitários de Extrema Esquerda e regimes totalitários de Extrema Direita, mas, há, também, diferenças importantes que irão determinar a classificação ideológica desses regimes: tanto na Extrema Esquerda quanto na Extrema Direita se destaca a figura de um líder carismático, visto como guia do povo, "um salvador da nação" que atrai a atenção de multidões (na ex URSS era Stálin, na Itália fascista Mussolini, na Alemanha Nazista era Hitler); tanto na E. Esquerda quanto na E.Direita há um partido único no poder controlando o Estado com poderes absolutos e impondo sua ideologia para toda a sociedade; em ambos os extremos há perseguição violenta contra opositores e se escolhe um inimigo para desviar a atenção das falhas do governo e direcionar a energia da população ("judeus e comunistas" para os nazistas; os "inimigos capitalistas e traidores da revolução" para os soviéticos) ; em ambos os extremos o Estado impõe uma rígida disciplina militar e doutrinação ideológica profunda; há investimentos bélicos pesados em ambos os extremos; há nacionalismo , ufanismo tanto na E. Esquerda quanto na E.Direita; há hierarquia de poder e os membros que estão nos postos mais elevados do partido no poder são cultuados como grandes líderes e vivem dos benefícios da exploração do trabalho do resto da população.
E quais são as diferenças? Na E, Esquerda a economia é planificada, todas as indústrias e meios de produção em geral passam pelo controle do Estado, há o uso da ideologia socialista , deturpada como propaganda de Estado (que nunca se realiza como deveria) para ludibriar a população. Na Extrema Esquerda o racismo não faz parte da propaganda ideológica oficial, a eugenia não é um programa estatal. Já na E. Direita, há racismo violento; eugenia como projeto de transformação étnica da sociedade; defesa de uma ideologia "elitista" ("os mais fortes devem governar e subjugar os fracos") ; empresas capitalistas continuam atuando e se tornam até mais fortes, aliadas ao regime (na Alemanha Nazista, a Basf, que hoje produz agrotóxicos , fazia na época gás para câmaras de gás dos campos de concentração; a Volkwagen fabricou o fusca seguindo pedidos de Hitler, a Bayer cresceu durante esse regime, etc) ; os regimes fascistas perseguiram comunistas e pregavam ojeriza a essa ideologia...

-Outro equívoco tem a ver com o termo "ditadura do proletariado": essa expressão tem uso meramente terminológico na teoria do "materialismo histórico dialético". Para Marx , enquanto houvesse Estado , teríamos a ditadura de uma classe sobre as demais. Em um Estado onde predomina o modo de produção capitalista, é a classe burguesa que usa o Estado para oprimir as demais, temos a ditadura do capital. Mas, mesmo em um Estado controlado por trabalhadores, teríamos uma ditadura , já que ainda há Estado, então, no socialismo, os trabalhadores no poder ( a maioria da população), deveriam (na perspectiva marxista) usar o Estado para promover transformações na sociedade que possibilitassem o aumento do poder dos trabalhadores, autogestão, e o fim gradual da necessidade do próprio Estado, até que não houvessem mais diferenças entre classes, e chegaríamos dessa forma no sonhado "comunismo" ; isso nada tem a ver com nazismo, seria um absurdo, como vimos, traçar paralelos entre nazismo e comunismo!

-É importante destacarmos, frisarmos bem, o conceito de Comunismo (já mencionado acima), para que fique bem claro: Comunismo é a etapa posterior a uma transformação socialista da sociedade (seja de cunho marxista ou anarquista) onde o Estado será superado e substituído pela auto-gestão e coletivização dos meios de produção, com o fim da divisão hierárquica da sociedade (tanto econômica quanto de poder político) e, portanto, fim das classes sociais. Sendo assim podemos ver claramente que não faz o menor sentido comparar "comunismo" com regimes totalitários fascistas, pois, no comunismo nem mesmo deve existir um Estado.


-Para fechar: você pode até dizer que comunismo é um "sonho utópico" que jamais irá se consolidar , pois, seria necessário um alto estágio de esclarecimento da população humana mundial, etc; mas, por favor, não cometa a "asneira" de afirmar que nazismo é a mesma coisa que comunismo, isso é de uma estupidez assombrosa!



Paulo Vinícius
(Professor de Filosofia e Sociologia )