sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Desconstruindo a farsa da "Escola Sem Partido".


Presenciamos, hoje, no Brasil, o lamentável e infeliz fortalecimento de uma nova "onda conservadora", alimentada pela intolerância e ignorância ( frutos azedos de ideologias negativas que se espalham parasitariamente em nossa sociedade).
É preciso entender o que significa "ideologia" para compreendermos o que se passa nesse embate "ideológico"  que se desenrola nesse país  (abaixo uma tentativa singela e bem generalista de definir Ideologia, tentando não se prender, para isso, a uma única ideologia específica):

 - Em termos gerais ,“Ideologia” pode ser compreendida como : um conjunto de idéias e valores (morais, religiosos, estéticos, filosóficos, políticos...) , organizados de forma sistemática, que orientam e influenciam a conduta e comportamento de indivíduos e grupos humanos em sociedade.
A ideologia pode ser encarada de forma "positiva" e "negativa", dependendo da intenção de quem a toma de forma consciente ou de quem por ela é influenciado. Nesse sentido, a ideologia pressupõe uma relação entre dominante e dominado ou um posicionamento de escolha e atitude.
Em sentido "negativo", a ideologia é usada como meio ou ferramenta de dominação , discurso de falseamento da realidade , meio de controle social... É nesse sentido que encontramos a ideologia como discurso de sustentação do poder que sugere a relação entre "dominante" e "dominado passivo" (ou enganado).
Em sentido "positivo", a ideologia é uma referência ética para a ação ou interpretação da realidade , escolhida de forma supostamente consciente.

Há ideologias de cunho político, filosófico, religioso, científico , artístico; a ideologia está presente portanto em vários campos da ação humana...
Somos influenciados por ideologias cotidianamente e nem sempre nos damos conta disso; Algumas ideologias se sobrepõem a outras e conseguem melhor disseminação e hegemonia na sociedade.

É claro ( partindo da própria definição exposta)  que na iniciativa de definição do que é "Ideologia" pode acabar aparecendo, também, a interferência ideológica, por isso, acima, a tentativa de apresentar características gerais desse conceito ou do uso que se faz desse termo. Mas, se fossemos partir de autores socialistas como Marx e Engels, por exemplo, veríamos que Ideologia é uma forma de distorcer a realidade e que há uma predominância, na sociedade, da Ideologia da classe dominante, que controla o Estado (direta e indiretamente), possui os meios de produção e os meios de comunicação de massa, e com esse poder, consegue espalhar seus valores e ideias de forma mais eficiente, convencendo até mesmo as classes exploradas, as quais, porém, poderiam reagir contra essa dominação produzindo suas próprias ideologias, através de seus intelectuais orgânicos (esse já seria um acréscimo de um outro pensador socialista , A. Gramsci) .  
Notamos que, mesmo se partirmos da definição generalista de Ideologia, primeiro apresentada, ou da definição marxista de Ideologia, de qualquer forma, sempre poderemos identificar ideologias se manifestando nas intenções políticas de atores sociais e esse é claramente o caso das iniciativas espantosas que estamos observando nos últimos dias por parte de alguns parlamentares no Brasil.

A definição do que seja "Direita" , também, não é algo tão simples; trata-se de uma convenção para identificarmos as ideias e ações de partidos e movimentos políticos que, muitas vezes, apesar dos nomes que carregam, vão na prática defender com dedicação ideias liberais econômicas ou posturas conservadoras no campo moral combinadas à ideias liberais econômicas. São partidos e movimentos políticos que, em geral, defendem coisas como : diminuição do Estado, cortes nos serviços públicos, cortes nos direitos trabalhistas, privatizações, abertura à iniciativa privada em áreas que hoje o Estado ainda controla ou interfere. Sem dúvida há partidos de Direita com tendência mais liberal no sentido ético e político, mas, no Brasil observamos que, o conservadorismo vem aumentando de forma alarmante entre os partidos que se identificam com ideias de Direita. Muitos desses partidos já foram considerados legendas de "Centro" , mas, há décadas já perderam a vergonha em assumir ideias liberais econômicas (o que nas Ciências Sociais, chamamos "neoliberalismo", por ser um liberalismo que deixa de lado as propostas éticas e políticas do "liberalismo clássico" e se concentra em intenções econômicas importantes para o capitalismo de "livre mercado" que essa ideologia almeja). 

A "Direita", que administra (dentro e fora da arena política institucional) o capitalismo voraz que se fortalece no Brasil ( moldando as instituições políticas), novamente parece desejar liquidar, com ferocidade, qualquer oposição real contra suas egoístas e estúpidas intenções e bandeiras ideológicas e, para tal, ressuscita velhos jargões e táticas de épocas nebulosas de nossa história. 

Na rua, agora, a Direita, raivosa , expressa sua ira contra tudo e todos que ofereçam algum tipo de resistência ao tosco conservadorismo que defende. Faixas e gritos de "Volta à Ditadura!", "Fora Comunistas!", "Deus, pátria e família!", demonstram o tom "esquizofrênico" dessa tragicomédia, uma nova "caça às bruxas", com cantos de fascismo travestido. 

Uma das artimanhas mais risíveis, porém, perigosas, dessa direita ensandecida, é a infame iniciativa do ridículo, e mal intencionado, "Movimento Escola Sem Partido" (criado por militantes de partidos de direita, entre eles os filhotes do saudosista, e "defensor da ditadura", Jair Bolsonaro) que, apesar do "cálido" nome, nada carrega de real preocupação com a qualidade da educação e muito menos com a pretensa "isenção" ideológica que apregoa. 
Basta uma rápida olhada no site do hipócrita movimento "Escola sem Partido'" para logo de cara nos espantarmos com incitações de ódio contra qualquer pensamento minimamente ligado ao que, no Brasil, chamamos "Esquerda" e que, para esses "cabeças de vento" do tal movimento, seria o inimigo a ser eliminado, o qual odeiam mesmo sem compreenderem. Na cabecinha oca desses "fundamentalistas de direita" o pensamento (estudado com atenção e tomado como referência teórica "mundo afora" em muitos países), de educadores como Paulo Freire (na visão rude desses "direitelhos", apenas um "comuna cruel!") , deveria ser definitivamente rechaçado de nossas escolas públicas, embora, raramente tenha sido, realmente, levado a sério nas mesmas. 
Aprofundando um olhar mais atento aos textos apresentados no site do tal "movimento" da Direita, notamos a explícita intenção ideológica escancarada que hipocritamente é apresentada como "neutralidade". O espanto surge quando nos deparamos com incitações contra professores os quais supostamente estariam (na visão desses cretinos "liberais-conservadores") "doutrinando" seus alunos nas escolas, ao abordarem temas polêmicos como política, poder, sociedade e luta de classes, espalhando o, tão temido, pensamento socialista. Mas, o que esses sujeitinhos não compreendem (ou compreendem, mas, fingem não ver, seguindo intenções ideológicas)  é que, a iniciativa de censurar o livre pensamento , com base em acusações levianas e total falta de conhecimento sobre a realidade da educação, na verdade não passa, ela mesma, de uma pregação ideológica das mais chulas e declaradamente voltada aos interesses de controle de pensamento e disseminação de valores por parte da Direita mais "conservadora e retrógrada" desse país e que, tal esdrúxula proposta, ainda poderia se voltar contra eles mesmos já que, a censura generalizada, poderia ser usada contra o próprio pensamento conservador ou supostamente "liberal". É claro que essa não parece ser a preocupação desses cretinos, já que sabem muito bem que as ideologias que defendem estão firmemente arraigadas, infelizmente,  na cultura da sociedade brasileira, disseminadas vergonhosamente pelos meios de comunicação de massa (  a grande mídia, burguesa) e pela indústria cultural. 
Vergonhosamente, iniciativas de criação de projetos de lei, seguindo as abomináveis intenções denunciadas aqui, se espalham pelo Brasil. Em algumas cidades e unidades da federação, mauricinhos engravatados, deputados e vereadores mal intencionados, levantam as bandeiras ideológicas da Direita e, com a maior "cara de pau", defendem propostas de leis para a censura do livre pensamento ou ainda para obrigarem o ensino de ideologias que defendem (como é o caso da proposta de lei de uma deputada estadual do PSB, no RS , que deseja obrigar o ensino do "criacionismo" nas aulas de Biologia, nas escolas estaduais desse Estado.) Também, no RS, um deputado (Marcel Van Hatten) ligado ao PP (antigo PPB, antes PDS, antes ARENA) anda tentando atochar uma proposta de lei que vai na mesma linha do "Escola Sem Partido", no intuito de impedir debates mais críticos nas escolas e promover a censura disfarçada. Ironicamente o PP (partido de Ana amélia e Paulo Maluff)  que se apresenta hoje como um "baluarte" da democracia , contra a "doutrinação de esquerda nas escolas", é um partido que , oriundo da antiga ARENA, defendeu os governos militares no Brasil e fez campanha contra o "movimento diretas já", ou seja, foi contra o sufrágio universal, contra o voto direto, contra a democracia! Curiosamente esse "partideco" de Direita, do qual muitos militantes afirmam "odiar a Esquerda e o Socialismo", está ao lado do PMDB e PT no governo federal (o que demonstra um pouco da real linha ideológica do Partido dos Trabalhadores, há tempos muito distante do que dizia defender nos anos 80). 
A verdade é que a educação para "a Direita" deveria ser voltada exclusivamente para a formação de mão de obra e consumidores passivos para o mercado capitalista; as escolas de ensino médio deveriam ser privatizadas, entregues à iniciativa privada, bem como as universidades públicas, é isso o que o pensamento liberal (neoliberal) defende, isso é sempre presente nos textos de autores dessa linha ideológica, algo claro em todos os momentos em que a Direita se expressa, basta um olhar retrospectivo ( e para textos recentes) para as publicações do panfleto "revista Veja" que já teve até mesmo a ousadia de sugerir que disciplinas como Filosofia e Sociologia fossem extintas da grade curricular das escolas do Estado de SP, com redução da carga horária de Geografia e História. 
O que está por trás dessas opiniões estúpidas sobre a educação pública? O que motivou a ditadura militar no Brasil (sob orientações do governo dos EUA na época)  a retirar da grade curricular das escolas públicas do Brasil a disciplina de Sociologia, diminuir carga horária de História, colocar Filosofia como opcional e inserir as disciplinas de Educação Moral e Cívica e OSPB!? A resposta é uma só: garantir a doutrinação ideológica de Direita e tentar impedir o pensamento crítico e qualquer abordagem didática de teorias socialistas ou similares. A mesma estúpida vontade repressora que alimentou a ditadura militar, décadas atrás, é o que incentiva as ações dos cretinos "direitelhos" de hoje!
Outro partido que se diz "social-democrata" , mas que na verdade defende e age como mais um partido "neoliberal" , o PSDB ( através do deputado federal do RN, Rogério Marinho), também, expressa um desejo de "censura sobre os professores". Já está em tramitação na Câmara dos Deputados o bizarro Projeto de Lei (PL) 1411/2015, que "criminaliza o assédio ideológico no ensino do país", seguindo novamente a imbecilidade do infame "Escola Sem Partido". Isso é a censura descarada! 
Não há como avaliar de forma "neutra" o que é ou não ideológico, pois, toda avaliação já será, em si, também, ideológica , aliás, essa proposta é totalmente ideológica e escancara as intenções de grupos de Direita que desejam impedir discussões sobre temas políticos e sociais em um dos últimos espaços propícios ainda para tal, as escolas públicas! Isso é um absurdo, e devemos lutar contra essa infâmia! 
Qualquer professor, honesto e competente, sabe muito bem que deve trabalhar conteúdos mostrando sempre as várias perspectivas possíveis sobre os temas abordados e tentando fazer o aluno pensar criticamente sobre o assunto! Não é preciso criar leis ridículas e repressivas para obrigar e interferir no trabalho dos educadores!
Se um professor realmente passar do ponto e tentar, equivocadamente, impor suas opiniões pela força, sem abrir espaço para discussão em sala de aula, basta o aluno tentar argumentar, insistir e , se necessário, reclamar com a direção da instituição de ensino onde estuda. Mas, a mera ideia de criar leis imbecis para censurar o pensamento não tem o menor cabimento!
Seguindo esse raciocínio, então, vamos agora pensar em leis para proibirem os juízes de tomarem decisões com base em suas visões ideológicas ( o que sempre acontece, ou muitas vezes) ou vamos criar leis para proibirem os políticos de defenderem posições ideológicas ao discutirem mudanças nas leis !? Isso seria muito hilário! Não faz o menor sentido esse tipo de coisa, sem falar que os alunos de hoje não são "cabeças ocas sem capacidade crítica", muito pelo contrário, são muito espertos, não caem tão fácil assim nas conversas dos professores, a informação circula freneticamente no mundo virtual, o problema é como selecionam essa informação e o cuidado para que não caiam em armadilhas ideológicas como é essa proposta cretina de censura. 
O objetivo dessa lei, sem dúvida, é a censura e com motivações ideológicas, ou seja, quer punir a suposta defesa de ideologia com base em uma visão ideológica de "Direita" descarada .

Não há problema algum no ato do professor, com discentes de ensino médio, por exemplo, expor sua opinião pessoal sobre um assunto, se assim for questionado , desde que deixe bem claro que essa é a sua opinião e abra espaço para os estudantes discutirem e criticarem o tema; desde que, também, mostre o "outro lado da moeda". É mais honesto expressar o que pensa do que esconder sua opinião, a qual, afinal, não pode ser totalmente sufocada. Ao esconder o que realmente pensa ou prefere, o professor pode acabar levando os alunos a aceitarem coisas de forma ingênua, sem compreenderem que, talvez, demonstre mais animação para abordar determinados assuntos, e outros não, por esses se enquadram em suas preferências ideológicas. Sabendo o que o professor realmente pensa o aluno, em ambiente propício à crítica e pensamento racional, poderá discernir melhor os conteúdos expostos, identificando até que ponto há interferência ideológica na exposição dos mesmos, a partir disso o estudante pode observar se o professor está sendo tendencioso ou não ao abordar alguns temas em aula; esse tipo de postura é importante, já que a neutralidade é ilusória. Até a disposição das cadeiras e classes, em uma sala de aula, revela um posicionamento ideológico subjacente, a ideologia está presente até mesmo na forma de se ministrar uma aula de matemática, ou seja, esse "pseudo-problema" não é algo restrito ao campo das "ciências humanas".
A direita ainda tenta espalhar o mito de que o "pensamento de Esquerda" se espalha nas universidades públicas do Brasil, quando uma rápida observação demonstra que é exatamente o contrário, que há sim   muitos professores universitários defensores de ideias conservadoras de Direita, apologistas do liberalismo político e econômico em todas as áreas e cursos, aliás, hoje indivíduos que se declararem defensores de ideologias de Esquerda sofrem grande dificuldade em seguirem carreira acadêmica dentro das "regras" do já viciado "jogo da academia" (é claro que entre estudantes, em alguns cursos, ainda é possível identificar uma predominância da militância de Esquerda, mas, a Direita hoje tenta se remobilizar dentro das universidades, também, em meio aos movimentos estudantis, sem falar na tendência ao "governismo" que muito prejudica esses movimentos). Há, também, a crescente interferência da iniciativa privada nas universidades públicas, com as infames parcerias "público-privadas" e o avanço das terceirizações, bem como os cursos de pós-graduação que cobram mensalidades (um absurdo já que estamos falando de instituições públicas!)  e que são direcionados para a formação de profissionais que atuarão em áreas vistas como relevantes para o mercado capitalista.

A alegação de que professores devem se restringir a "ensinar conteúdos" é uma crítica muito boba e ingênua, pois, o que é afinal "ensinar conteúdos"? Ensinar "os conteúdos" envolve, no caso de algumas disciplinas da área das ciências humanas, por exemplo, analisar o jogo político ideológico e, se for necessário, mostrar como ideologias são usadas para manipulação da opinião pública ; certamente isso será um grande incômodo para todos que desejam manter as coisas sob a obscuridade, veladas, isso é uma pedra no caminho de quem não deseja que aflore o pensamento crítico entre os trabalhadores. Não podemos esquecer que as escolas públicas atendem, em sua maioria, os filhos das famílias da classe trabalhadora, não é atoa que os salários dos professores seja tão baixo e as condições desses estabelecimentos de ensino sejam muitas vezes precárias, pois, essa é a intenção da classe que controla o Estado nessa injusta sociedade capitalista na qual vivemos. 

O que a Direita quer dizer com seus ataques agora contra a educação é que deseja podar em especial a ação de educadores de disciplinas de humanas, evitando qualquer abordagem mais crítica sobre temas políticos e sociais nas escolas, para deixar assim a mídia burguesa livre para fazer a "lavagem cerebral" sobre a população, afinal "professor não pode tocar em questões ideológicas", eis a grande "malandragem" da Direita!

 O fundamental em uma aula é incentivar o aluno a buscar por si mesmo o conhecimento e sempre manter uma postura crítica; uma aula deve ser espaço propício para o desenvolvimento da autonomia racional e criativa do aluno, mas, essa não é de forma alguma uma perspectiva de Direita  muito pelo contrário. A Direita sempre prezou muito por um modelo doutrinário de educação, voltado para a padronização do comportamento e formação de mão de obra acrítica, uma educação calcada na disciplina rígida que anula a autonomia do indivíduo.

Claro que há professores que tentam converter, doutrinar, seus alunos, sabemos disso, e isso tanto entre defensores de ideologias de Direita quanto de Esquerda, mas , isso não é tão comum nas escolas quanto esse escarcéu da Direita confusa quer fazer parecer, e não é de forma alguma uma qualidade do que se imagina ser um bom educador. O bom professor, até pode falar o que pensa, mas, deixando claro que essa é a sua opinião e que há outras opiniões que devem , também, ser levadas em consideração e que para aprender alguma coisa qualquer é importante que o aluno conheça bem toda oposição possível, para que possa tirar suas próprias conclusões.

Imaginem o absurdo dessas propostas de censura sobre os professores, como a proposta de lei do mauricinho deputado do PP no RS, que indica até pena de prisão ao professor que tentar promover a suposta "doutrinação ideológica"; vamos imaginar um exemplo: o professor de História ou Sociologia ou Filosofia pretende falar sobre o Socialismo e explicar os detalhes de cada vertente dessa corrente de pensamento, poderia, de acordo com uma interpretação baseada nessa ridícula lei, estar "doutrinando seus alunos", mas, os alunos precisam conhecer esse tema, até mesmo para poderem criticar e tomar suas posições de forma consciente e esclarecida, afinal, é importante para qualquer um, que pretenda conhecer pelo menos o básico da história da humanidade, entender o que significou e significa o pensamento socialista! Mas, digamos que um aluno pense , por influência externa à escola, que tal aula é uma "doutrinação" , então, por causa de sua ignorância o professor pode ser punido por isso. Isso é certo, é desejável criar um clima desses nas escolas? Como julgar um caso desses? Imagine as complicações desse tipo de situação bizarra! O mesmo pode acontecer a um professor (a) que deseje abordar o Liberalismo e discutir criticamente sobre o capitalismo, vai que um aluno anarquista ou marxista não goste da aula, e aí? (Claro que essa hipótese é muito mais mirabolante e dificilmente isso aconteceria, pois, sabemos que conservadorismo e bitolação são típicas atitudes comuns hoje entre adeptos de um pensamento de Direita, como essa infame lei atesta muito bem); Ou, ainda, imagine se o professor falar em "teoria da evolução das espécies" nas aulas de Biologia,  e um aluno "muito crente" não gostar, etc. São exemplos que demonstram o quanto essas propostas da Direita são extremamente ridículas. Sem falar que, não podemos tirar esses temas da grade curricular das escolas, apenas porque alguns conservadores querem evitar que "a juventude se torne um pouquinho mais esclarecida sobre alguns temas"!
Essas propostas escondem, também, a seguinte intenção: evitar que professores solicitem apoio aos alunos para uma greve ou mobilização contra o governo, por exemplo. O aluno nessa perspectiva, deve apenas ir na escola e ficar escutando coisas que "um robô" poderia falar , o professor se torna irrelevante nessa posição (mas, quem programaria o robô e qual seria o programa?).
A verdade é que a neutralidade ideológica é uma farsa, o mais honesto é deixar sempre tudo claro, "colocar tudo na mesa" e deixar o aluno analisar as coisas por si mesmo, isso exige que o professor(a) saiba respeitar a opinião divergente, também, e ter a habilidade para falar até daquilo que não gosta; terá que, ele mesmo, conhecer para poder apresentar a seus alunos, todas as perspectivas possíveis. Mas, a total neutralidade é algo que não condiz com a realidade, o professor(a) precisa promover uma análise crítica sobre os temas propostos, caso contrário as coisas se reduzem à decoreba e a aula crítica (para formação da autonomia do estudante) perde o sentido.
Como educadores (as), como trabalhadores (as), devemos rejeitar com veemência qualquer tentativa de podar, censurar, o pensamento crítico nas escolas públicas que servem aos trabalhadores, pois, essa é a vontade da Direita que deseja controlar e evitar, de todas as formas possíveis, qualquer mínima iniciativa de esclarecimento da classe trabalhadora! 



Paulo Vinícius (professor de Sociologia e Filosofia)

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Sobre o mundo contemporâneo: Não é sobre ser livre. É sobre servir.


Domínio de si. Reforçamos como mantras que somos livres e agimos segundo nossos próprios e independentes princípios racionais. Até quando iremos com este devaneio autoilusivo? Uma vaidade que acima de qualquer coisa é produto do tempo presente.

Não raro julgamos ser os detentores da Razão e as soluções para conflitos do mundo. Um traço narcísico do tempo presente? Creio que sim. Uma vez que estamos inseridos em uma estrutura de pensamento neoliberal tão segura e sólida que o isolamento da consciência faz-nos crer que os circuitos de ideias e afetos não interagem com nossa psique, oras, o Ser atual é tão sujeitado as estruturas tirânicas que ditam como agir e o que pensar quanto os ratos dos testes behavioristas de Skinner.

Essencialmente o não-servir é atravessado por: Primeiro, identificarmos/problematizarmos nossa própria irracionalidade que direciona o debate e conduz o cotidiano da política. (Por exemplo: o medo e a esperança como motivadores para uma opinião “racional”.) Segundo, tratarmos os temas de construção social como elemento constitutivo do Eu e abandonarmos a falsa ideia de autonomia enquanto que os grilhões de uma servidão sofisticada de um programa neoliberal estiverem em nossa consciência.


Atualmente, não é sobre ser livre. É sobre servir, voluntariamente ou não. 

Felipe Lopes Rodrigues - Colaborador do Movimento Autonomia e Revolução