segunda-feira, 16 de novembro de 2020

A “Esquerda iludida” e o teatro da "Democracia Liberal". Um resumo da tragicomédia.

 

A “Esquerda iludida” e o teatro da "Democracia Liberal". Um resumo da tragicomédia.

(por Paulo Vinícius)*


(A "Democracia Liberal Representativa" é o jogo da burguesia, não há possibilidade efetiva de mudança dentro desse jogo).



Para vencer uma eleição, dentro do esquema da "Democracia Liberal Representativa", é preciso dinheiro e manipulação ideológica.


.O dinheiro tem duas principais fontes: fundo público partidário+fundo eleitoral (os maiores partidos ganham mais) e “Caixa 2” (de onde vem muita grana).

.A manipulação ideológica é feita por intermédio da mídia privada de massa , internet e igrejas (tudo com muita grana rolando) e envolve especialistas em propaganda, psicologia, ciências sociais, mídia.


A "Esquerda" socialista radical não tem dinheiro e nem meios eficientes de propagação ideológica, portanto, dentro do que alguns ainda chamam "Esquerda" só a "Centro Esquerda" ou "Esquerda Institucionalizada" tem alguma chance de vencer eleição, por fazer acordos com a classe burguesa, recebendo financiamento de empresas privadas interessadas em usar o aparato estatal para seus próprios interesses por intermédio de seus fantoches políticos patrocinados. Resumindo, temos aí uma farsa.


Quando a "Centro Esquerda" vence, está já comprometida com os interesses da burguesia, foi assim com o PT que fez acordos com Odebrecht, OAS, JBS, José de Alencar (grande empresário, do Partido Liberal) vice de Lula, e alianças com PP de Maluf, PMDB e até o Bolsonaro (na época no PP, antiga Arena) foi da base do governo Lula; PSC de Feliciano, Collor, Renan Calheiros, Sarney...Gente que depois pulou do Titanic como era previsto. Isso infelizmente é história.

A “Centro Esquerda” no poder é útil para maquiar o sistema e evitar a revolta popular , sabotando a luta sindical e desmontando a resistência.


No momento a classe dominante não precisa da “Centro Esquerda”, pois a Direita política conseguiu fazer uma boa propaganda ideológica e "torrar o filme da Esquerda"; agora é "bonito" o sujeito assumir-se como "Direita", e por mais canalha que o indivíduo seja a massa aplaude; o povão aceita essa conversa sem questionar e os atores políticos da suposta “Esquerda” não conseguem rebater adequadamente o discurso dos Conservadores, ficaram com “vergonha” da própria ideologia, escondem até a cor original de suas bandeiras e símbolos.


Mas, se houver ameaça de revolta popular, anotem aí: a “Centro Esquerda” pode voltar para aliviar a situação e conter a revolta, isso já aconteceu outras vezes na história. Políticas de "Estado de Bem-Estar Social" são exemplos do que menciono aqui, isso aconteceu na Europa ainda na primeira metade do século XX para evitar o avanço das ideias socialistas (por temor à expansão soviética) e até mesmo no Brasil na era Vargas e depois na era Lula. Claro que isso sempre soa como "menos pior" se comparado a tragédia que é um governo declaradamente de Direita, mas tudo faz parte do roteiro. Notamos neste ponto o poder cego do “povo” (do qual a maior parcela é formada pela classe trabalhadora desorganizada); força essa conduzida pelas emoções e manipulação ideológica, mas que pode “despertar” diante de uma situação de sofrimento e intensa exploração para acabar sendo iludida ou reprimida pela classe dominante que controla o aparato estatal, pois falta a chamada “consciência de classe” e as “organizações” políticas que se autoproclamam “representantes” dos “trabalhadores” não conseguem insuflar a base (dado que estão distantes da periferia ou não conseguem comunicar suas propostas de forma eficiente e persuasiva).


Quando acontece algum furo nesse esquema, aí entra em cena o recurso do golpe de Estado,atentado, apelo à manipulação jurídica, por exemplo, ou até mesmo a difamação apelativa com show de “fake news”.


Há divisões na burguesia, concorrência entre empresas, então, quando vence um partido ou coligação "x" contra uma "y", isso indica muitas vezes qual ala da burguesia teve mais força no jogo, tal como acontece nos EUA entre "Republicanos" e "Democratas", fantoches da burguesia estadunidense em um grande circo político. A ilusão é muito bem elaborada, é preciso que a população legitime o jogo, isso acalma possíveis revoltas e insatisfações , dando uma "colorido" democrático fantasioso para o sistema e funciona muito bem, a ponto de que parte da militância de “Esquerda” cai na armadilha com frequência.

A "Democracia Liberal Representativa" é o jogo da burguesia, não há possibilidade efetiva de mudança dentro desse jogo para quem ainda carrega ideais socialistas "tradicionais". Com o avanço das novas tecnologias de propagação de "informação", tecnologias de monitoramento, somado às armas cada vez mais avançadas (que a Esquerda Socialista não tem), a cada dia fica mais difícil quebrar com o esquema. A "Esquerda" (socialista sincera e que deseja alguma real mudança) está perdendo "o bonde da história"( para não dizer que já perdeu).

Quando parte da “Esquerda” aderiu às eleições no modelo liberal, abrindo mão de outras vias de embate, optou pela derrota dos ideais que dizia defender. Para tentar começar a vislumbrar uma possibilidade de fuga do labirinto no qual se meteu, se faz urgente para a pretensa Esquerda a busca por novas estratégias partindo de uma autocrítica profunda, caso contrário o problema tende a se agravar de forma irremediável.




*(Professor de Filosofia e Sociologia; Antropólogo e Cientista Político).


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