segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

CAMPANHA POR UMA MAIOR VALORIZAÇÃO DAS CIÊNCIAS HUMANAS NAS ESCOLAS PÚBLICAS DO BRASIL!




Quando falamos em qualidade na educação, compromisso social da escola e dos educadores, relevância social dos conteúdos trabalhados , reconhecimento da realidade sócio- cultural dos alunos no decorrer do processo educativo , educação para a formação da cidadania, educação para formação de mentes críticas , ética... Tocamos em temas abordados pelas Ciências Humanas, questões que são aprofundadas e debatidas nas aulas de História, Filosofia, Sociologia,Geografia.
Não há como tocar na problemática da qualidade da educação sem fazer referência direta às Ciências Humanas. Tentar pensar a educação sem dialogar com teorias filosóficas e sociológicas , sem dialogar com a obra de historiadores, filósofos cientistas sociais, antropólogos, geógrafos, sem mergulhar no conhecimento produzido pela História, Sociologia, Filosofia, sem dominar as capacidades exigidas por esse tipo de reflexão ou sem se inserir no campo de conhecimento específico das Ciências Humanas e Sociais, seria um grande disparate, uma demonstração de total ignorância com relação ao tema em voga e péssima compreensão sobre a história do conhecimento humano. Mas, embora, seja inegável a importância das Ciências Humanas para a formação humana, para o desenvolvimento das capacidades intelectuais dos estudantes, para o florescer de uma visão crítica-racional sobre a realidade onde esses sujeitos estão inseridos , para a compreensão efetiva do fazer científico e seu compromisso social, para a formação de pessoas capazes de participar ativamente dos debates e busca de soluções para os problemas políticos e sociais que nossa sociedade e o mundo enfrentam hoje, etc...apesar de tudo isso, no país que queima bilhões de reais em futebol, dinheiro público ao vento, no Brasil da politicagem, a carga horária nas escolas públicas para as disciplinas das Ciências Humanas é menor que a carga horária das demais disciplinas.
Foi durante o regime militar, onde mentes autônomas foram esmagadas pelo autoritarismo de um governo que desprezava a democracia e a opinião livre da população , que disciplinas como Filosofia e Sociologia foram relegadas a segundo plano, tornaram-se disciplinas optativas e saíram do currículo da maioria das escolas brasileiras, as demais disciplinas das Ciências Humanas tiveram carga horária reduzida ,perdendo espaço para disciplinas da área das ciências exatas e naturais . Tal estratégia revelava um acordo entre o governo brasileiro e estadunidense no intuito de evitar a proliferação de ideias críticas ou opostas ao regime imposto ...
A questão aqui não é levantar uma bandeira contra as demais ciências, pois toda ciência cumpre sua função dentro do grande edifício da Ciência, cada ciência dentro de sua especificidade traz a possibilidade de um olhar diferenciado, uma abordagem e interpretação peculiar sobre algum aspecto da realidade. Todas as disciplinas são relevantes para a formação humana do estudante. Mas, é necessário um equilíbrio na distribuição da carga horária das disciplinas. Não faz sentido mantermos o mesmo “esquema” de um tempo de autoritarismo onde a opinião individual e o pensamento crítico e livre eram desprezados e vistos como ameaça. Não faz nenhum sentido mantermos essa disparidade absurda entre as ciências na escola , não há justificativa razoável alguma do ponto de vista didático ou epistemológico para que algumas disciplinas se mantenham com quatro ou cinco períodos por turma enquanto outras possuem apenas um período. E sobre o trabalho dos professores!? Enquanto um professor de Sociologia, por exemplo, precisa assumir trinta e tantas turmas, para cumprir uma carga horária de quarenta horas, um professor de matemática ou física com menos da metade encerra sua carga horária. Pensem no trabalho pesado e desgastante de um professor que tem apenas um período de cinquenta minutos para trabalhar com seus alunos uma vez por semana e possui trinta turmas, pense nos cadernos de chamada que precisa conferir e preencher, nos trabalhos e provas que precisa corrigir, como pode esse professor trabalhar de forma adequada, com suas centenas de alunos, nessas condições? Lembre que no Brasil a maioria das turmas estão divididas em uma média de vinte e cinco alunos ou mais. É justo um professor trabalhar mais e receber o mesmo que outro que tem um número menor de turmas?
Não podemos , também,esquecer que o salário dos professores no Brasil é miserável , alguns precisam trabalhar manhã , tarde e noite e em duas escolas ao mesmo tempo para conseguirem fechar quarenta horas e ganharem um pouquinho mais. Lembre , também, que em nossa república de bananas alguns estados da federação não cumprem a lei do piso nacional do magistério (como é o caso do RS por exemplo onde o governo Tarso - PT não paga há mais de setecentos dias o que a lei exige) ... Tudo isso é um grande absurdo e temos que tentar mudar essa situação, podemos começar por nós mesmos professores e alunos, temos que nos ajudar, uma distribuição equitativa e equilibrada da carga horária das disciplinas entre as áreas já é alguma coisa, é o mínimo...

Paulo Vinícius (professor de Filosofia e Sociologia em escola pública- RS)

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