sexta-feira, 29 de novembro de 2019

Razão como Ferramenta da Vontade. (O Pessimismo em Schopenhauer e Horkheimer).




Razão como Ferramenta da Vontade.
(O Pessimismo em Schopenhauer e Horkheimer).

Por Paulo Vinícius Nascimento Coelho

(Professor de Filosofia e Sociologia; Bacharel em Ciências Sociais (Antropologia-Sociologia-Ciência Política) pela UFSM; Licenciado em Filosofia pela UFSM; Especialista em Pensamento Político-UFSM; Mestrando em Filosofia-UFSM. (contato: paulohidra@hotmail.com))
(UFSM, Santa Maria, Rio Grande do Sul, Brasil)



Resumo: O texto apresenta uma breve análise sobre as aproximações entre a “Teoria Crítica” de Max Horkheimer e a Filosofia de Arthur Schopenhauer, destacando os conceitos de “razão subjetiva” ou “instrumental” trabalhados por Horkheimer e a visão pessimista de Schopenhauer em relação ao mundo e história humana (visão essa inspirada em sua metafísica da Vontade).

Palavras-Chave: Razão Subjetiva; Razão Instrumental; Razão Objetiva; Vontade; Horkheimer; Schopenhauer; Pessimismo.


Resumen: El texto presenta un breve análisis sobre las aproximaciones de la "Teoría crítica" de Max Horkheimer con la Filosofía de Arthur Schopenhauer, destacando los conceptos de "razón subjetiva" o "instrumental" trabajados por Horkheimer, y la visión pesimista de Schopenhauer sobre al mundo y la historia humana (una visión inspirada en su metafísica de la Voluntad).

Palabras clave: Razón Subjetiva; Razón Instrumental; Razón Objetiva; Voluntad; Horkheimer; Schopenhauer; Pesimismo.




Introdução.

O pessimismo de Arthur Schopenhauer soa para alguns como nebuloso, uma visão negativa e trágica sobre o mundo, dado que Schopenhauer deixa bem claro que não há um sentido racional, um objetivo para a vida, e que tudo na verdade é apenas manifestação de um impulso irracional, a Vontade. Mas, Horkheimer conseguiu vislumbrar em Schopenhauer aspectos de uma Filosofia que lhe soou como mais positiva do que a sinistra arquitetura que percebia estar sendo engendrada pela exacerbação da racionalidade subjetiva ou instrumental com o naufrágio das promessas do Iluminismo e o advento de novas tecnologias no século XX que foram usadas para destruição e controle social, tanto nas sociedades capitalistas quanto nos regimes fascistas (Itália e Alemanha Nazista) e mesmo na ex URSS (o chamado “socialismo real), o que ficou escancarado durante as duas grandes guerras e após esses episódios terríveis da história humana. Schopenhauer, para Horkheimer, desenvolveu uma visão moral calcada em fundamentos metafísicos que era mais bela do que a vazia racionalidade científica instrumentalizada pelos detentores do poder no controle do mercado e dos Estados.
O texto apresentará inicialmente (de forma sintética) como Schopenhauer definia a Vontade e como compreendia a “razão” em sua obra mais importante “O Mundo Como Vontade e Representação” e depois estabelecerá uma relação entre o pensamento de Schopenhauer e de Max Horkheimer mostrando como o pensamento desses dois filósofos pode ser aproximado e usado para interpretarmos aspectos da história humana, mesmo na contemporaneidade.


Vontade e Razão em Schopenhauer.

Na natureza Schopenhauer identificava a manifestação de uma essência metafísica irracional, cerne impulsivo do mundo, presente em todas as espécies vivas e também na matéria inorgânica; a tal essência denominou Vontade.
A Vontade seria una, ou seja, ela está presente como essência única em todas as coisas, portanto, há uma ligação básica, de cunho metafísico, entre tudo que existe no mundo. Essa unidade da Vontade poderia indicar que, para um ente vivo (fenômeno da Vontade), quando consciente de sua existência, seria fácil identificar em outro fenômeno da Vontade essa mesma essência e que a harmonia entre espécies e manifestações da Vontade seria algo comum, permanente e nem mesmo se colocaria como uma questão; no entanto, não apenas não é fácil a um fenômeno ou objetivação da Vontade reconhecer a “mesma essência comum” em outro fenômeno da Vontade como, também, a harmonia entre espécies não é algo tão explícito, pelo contrário, explícito, na maioria das vezes na natureza, é o conflito entre espécies, embate entre entes vivos e, dentro de algumas espécies a disputa entre seus próprios membros, algo que se traduz como uma batalha constante pela sobrevivência.

No corpo de um animal a Vontade se expressa de forma clara, o corpo de todo animal parece estar adaptado ao conflito pela vida. Tubarões com suas fileiras de dentes afiados, capacidade de nadar em grandes velocidades e detectar odor de sangue a longas distâncias, águias que podem, de elevada altitude, enxergar a luz ultravioleta refletida na urina de roedores (presa em seus pelos), insetos que se camuflam em meio a folhagem, formigas que trabalham de forma organizada cumprindo tarefas como um grande organismo, plantas que produzem flores que atraem pássaros com seu odor, cor e formato, etc. A espécie humana apesar de seu corpo aparentemente frágil, se comparado a outras espécies, possui um sistema nervoso muito desenvolvido e uma inteligência aguçada que lhe permite criar tecnologias que vão além de seu próprio corpo e, além, dessa capacidade de cunho prático, ainda possui a racionalidade, o que abre a porta para uma dimensão diferenciada da realidade: o mundo simbólico, cultural e conceitual.

Segundo Schopenhauer só a espécie humana possui a capacidade de lidar com conceitos abstratos, algo que vai além da inteligência empírica, e a isso o filósofo denominou razão. A razão permite a espécie pensar sobre si mesmo e tecer teorias sobre o mundo, sendo o momento em que a essência do mundo (A Vontade) encontra a possibilidade de se revelar em termos conceituais, tentar compreender-se racionalmente, pois, a razão, trabalhada na Filosofia, pode ser como um espelho da Vontade, dispor em linguagem e conceitos aquilo que antes apenas por intuição e emoção podia ser percebido.

Poder-se-ia até dizer que cada um, sem ajuda de ninguém, sabe o quê é o mundo. De fato, cada um é o próprio sujeito do conhecimento, cuja representação é o mundo (e isso também seria uma sentença verdadeira). Mas tal conhecimento é intuitivo, é conhecimento in concreto. Reproduzi-lo in abstracto, ou seja, elevar as intuições sucessivas que se modificam, bem como tudo o que o vasto conceito de SENTIMENTO abrange e meramente indica como saber negativo, não abstrato, obscuro, a um saber permanente - eis a tarefa da filosofia. Esta, por conseguinte, tem de ser uma expressão in abstracto da essência do mundo, tanto em seu todo quanto em suas partes. (Arthur Schopenhauer em “O Mundo Como Vontade e Como Representação”; p.137).

A razão, no entanto, ainda está ligada à Vontade, é ainda mais uma manifestação da Vontade, mesmo que possa servir como um meio de “auto-reflexão” dessa mesma Vontade manifesta no fenômeno humano. Lembrando disso podemos então identificar não apenas os limites da racionalidade (que poderia ser muito melhor explicado pela Teoria do Conhecimento como faz, também, Schopenhauer dialogando com Kant), mas, como a Vontade impulsiona a racionalidade e ainda: como a razão é usada para realizar projetos que atendem aos desejos individuais do sujeito ou de um grupo, de acordo com intenções egoístas.

O egoísmo é uma tendência de comportamento que se destaca na natureza, caracterizada pela busca de auto-subsistência e prazer individual, o sujeito agirá em busca da realização dos “desejos” e “impulsos” egoístas mesmo que tenha que passar sobre vontades alheias (ou a Vontade manifesta em outros fenômenos). Além do egoísmo há ainda duas tendências de comportamento que moldam os carácteres humanos: a maldade (que consiste em sentir prazer no sofrimento alheio) e a compaixão (que é definida como a capacidade de “se colocar no lugar do outro”, percebendo, intuitivamente, que no outro (qualquer outro ente vivo, não apenas humano) age a mesma essência una do mundo, na superação, momentânea, porém, marcante, do princípio de individuação). Infelizmente, diz Schopenhauer, ao observarmos o mundo notamos uma predominância do egoísmo na disputa pela vida entre espécies na natureza e no interior da espécie humana (onde o individualismo é mais intenso, dado o desenvolvimento da capacidade racional e, por consequência, uma acentuação do princípio de individuação).

A razão pode servir à Vontade manifesta como egoísmo no fenômeno humano, engendrar planos de dominação e imposição de interesses (por parte de um indivíduo ou grupo que está ou deseja poder, controle do Estado ou do mercado, por exemplo) e ainda arquitetar mundos imaginários mirabolantes e mitológicos que podem ser usados para manipulação de comportamento das massas (o mesmo pode acontecer no campo filosófico e científico com algumas supostas teorias e no campo político com ideologias políticas), algo que foi muito bem trabalhado por Friedrich Nietzsche interpretando Schopenhauer.


Uma aproximação entre Schopenhauer e Horkheimer.

Se tentarmos traçar uma linha de aproximação entre o pensamento de Arthur Schopenhauer e de Max Horkheimer podemos identificar no conceito de “razão subjetiva” de Horkheimer algo sobre o que podemos nos debruçar, levando em consideração que o filósofo da Teoria Crítica, que viveu por um tempo em Frankfurt, foi reconhecidamente um leitor e admirador da filosofia de Schopenhauer (o qual, também, viveu por anos em Frankfurt até a fase final de sua vida). É importante lembrar que outros pensadores estudados pela Escola de Frankfurt como Nietzsche e Freud se inspiraram muito em Schopenhauer, sendo assim, aproximar Schopenhauer da Teoria Crítica de Horkheimer é algo que faz muito sentido.

Horkheimer chamava de “razão subjetiva” o uso da racionalidade seguindo os intuitos particulares do sujeito, no que estaria pressuposto a garantia de sobrevivência e obtenção de sucesso em suas iniciativas práticas, sem levar em consideração perspectivas mais abrangentes oriundas de uma filosofia que tente explicar a realidade em sua inteireza oferecendo projetos políticos e éticos para impor finalidades, objetivos à vida humana, nada disso é preocupação da “razão subjetiva”, pois, essa se concentra na eficiência prática, no planejamento para o sucesso na ação. A razão subjetiva, com o desenvolvimento das ciências empíricas e criação de novas tecnologias, se instrumentalizou, potencializando-se.
O desenvolvimento das ciências naturais e exatas, sob a égide da linguagem matemática e métodos quantitativos, o que a partir do século XIX deu um grande salto e se consolidou no século XX, gerou um grande entusiasmo no Ocidente sobre a eficácia e eficiência desses novos conhecimentos e técnicas, tal logo se espalhou pelo mundo com o processo de globalização do mercado capitalista, principalmente após a Segunda Guerra Mundial.
As chamadas “ciências empíricas” mostraram força prática, demonstraram que eram úteis para fortalecer o capitalismo, assim como produziram tecnologias usadas para extermínio em massa e controle social (aí já com o auxílio, também, das Ciências Humanas) pelos Estados totalitários de cunho fascista e nazifascista e, até o fim da URSS, também, potencializaram mecanismos de controle social no suposto socialismo do outro lado da “cortina de ferro”.
Novas tecnologias, seguindo desígnios de uma racionalidade instrumental, mostraram-se muito úteis para equipar as “mortais máquinas de guerra” dos Estados ao mesmo tempo em que promoveram uma diminuição da mortalidade por doenças no campo da medicina e indústria farmacêutica, impulsionaram a produção industrial e até mesmo levaram a espécie humana à “conquista do espaço” (pelo menos até a Lua e lançamento de sondas espaciais).

O poder demonstrado pelo conhecimento científico destronou progressivamente a tradicional filosofia assentada sobre a metafísica e promoveu uma elevação da “razão subjetiva” e “instrumental”.

Horkheimer denunciava a invasão no campo filosófico da “razão subjetiva”, “formalizada” identificando em correntes como o “pragmatismo” esse esvaziamento da Filosofia para se enquadrar aos procedimentos das ciências empíricas e a uma cultura moldada por tal, na atitude, por exemplo, de tomar como verdade aquilo que representasse a realização prática de uma proposta, de acordo com uma finalidade imediatista “teorias, conceitos, vistos como planos de ação e a verdade como sucesso da ideia” (Max Horkheimer; “Eclipse da Razão”; p.46).

A decadência das grandiosas narrativas filosóficas metafísicas ou mesmo materialistas (que carregavam uma base metafísica mesmo sem reconhecerem isso) as quais ousavam oferecer explicações para a totalidade e planos para a humanidade, que pretendiam explicar ou “decifrar” a história da humanidade de acordo com discursos teleológicos, somada a queda da religião (o que Nietzsche chamou de “morte de Deus”) gerou um clima cultural de crise de valores onde o relativismo passou a triunfar, em um momento classificado por alguns (Perry Anderson, Lyotard, Zigmunt Bauman, Castells, Giddens, por exemplo) como “pós modernidade”(nota 1, ao fim do texto): uma “situação” de predominância de visões relativistas em especial no campo das Ciências Humanas, expressa, também, nas artes; o que aparentemente começou realmente a tomar “forma” no período entre guerras e que, após a Segunda Grande Guerra, sofreu uma aceleração e um grande impulso depois da queda do muro de Berlim em 1989 e o fim da URSS em 1991. Tais acontecimentos demarcam para muitos o naufrágio do “socialismo real” e com isso a morte das “utopias”, embora, isso não seja reconhecido pelos marxistas mais radicais e temos ainda algumas sociedades que se autodenominam socialistas, sendo a China uma grande potência econômica com bandeira vermelha (obviamente há muitas controvérsias sobre o que seria esse “suposto socialismo real”). Há, também, ainda religiões fortes no mundo, o islamismo se propaga por muitos países levando um discurso autoritário e um projeto “do que deve ser o homem, como deve agir” e em países da América Latina (como Brasil e Bolívia) igrejas evangélicas proliferam (com um cristianismo adaptado ao capitalismo)...

Olhando para o “cenário” descrito até aqui, por trás de tudo isso Schopenhauer provavelmente diria que a irracional Vontade está agindo e que no fundo toda essa insana tragicomédia nada mais é que o “movimento” ou manifestação da Vontade de Vida na natureza, sendo expressa pela espécie humana. Nietzsche completaria adjetivando essa Vontade como “Vontade de potência” ou de “dominação”, onde uns tentam impor aos demais suas verdades subjetivas, que nada mais são que máscaras conceituais (ou engôdos ideológicos, diria Marx) de seus desejos pessoais muitas vezes inconscientes. No entanto, parece que, realmente, a força das grandes narrativas (sejam de cunho metafísico filosófico, ideológico político ou religioso mitológico) perderam muita força, talvez, por não suportarem o embate com tantas outras no conflito cultural que o mundo globalizado engendrou e, ao mesmo tempo, a “razão” (desquitada de finalidades pretensamente mais nobres e tomada como mera ferramenta sem conteúdo, mas, útil como “meio”) passou a ser mais intensamente usada para produzir formas de controle social disfarçadas de “necessária organização burocrática” e “legalidade”, auxiliando na consolidação da hegemonia do mercado capitalista, padronizando as engrenagens do sistema sob orientação de uma classe (conjunto de famílias abastadas que regem grandes empresas e bancos e que se escondem por trás dos fantoches políticos e da áurea de neutralidade das normas legais dos Estados) que controla os meios de produção e “o capital” e determina as regras do jogo.

As teorias metafísicas, ideologias políticas e os discursos religiosos, que ofereciam verdades absolutas e dogmas “incontestáveis”, não conseguem mais se sustentar diante dos choques culturais e da força das ciências empíricas, podem obviamente ainda convencer muita gente, mas, não imperam em toda uma sociedade como referências sagradas e inquestionáveis (com exceção, obviamente, das sociedades onde o fundamentalismo religioso ainda sobrevive, mas, fazendo uso dos recursos e mecanismos elaborados e produzidos pelas ciências ou ainda nas sociedades ditas “primitivas” em processo de extinção). A ciência, também, é atacada, quase sempre por quem ainda tenta preservar antigas perspectivas, mas, ela se impõe como aparato organizativo e assim molda sociedades, o que ocorre de acordo com interesses de quem usa essa ferramenta (cada vez mais eficiente a cada nova tecnologia desenvolvida). A ciência pode até ser desprezada por muitos (que seguem perspectivas ideológicas específicas ou simplesmente ignoram o conhecimento científico por falta de instrução ou real “falta de acesso”), porém, as técnicas e conhecimentos científicos estão em pleno vapor conduzindo multidões. Hoje disputas ideológicas e religiosas se dão por meio de redes sociais em uma rede mundial de computadores, muito útil (ou muita usada) para manipulação de comportamentos e escolhas políticas.

A grande “metanarrativa” que se impõe hoje no mundo do capitalismo internacionalizado é o discurso de uma suposta “Ciência Econômica” que foi dominada pela ideologia Liberal (mais especificamente aos moldes do “neoliberalismo”) usada hoje para “legitimar” o modo de produção capitalista em quase todos os cantos do planeta, propagada pela mídia privada de massa e tomada como referência máxima diante da qual todas as alternativas teóricas são classificadas como “ingênuas” ou “superadas”.
O Liberalismo Econômico (que, aos moldes do “neoliberalismo”, carrega implicitamente o “darwinismo social”), como voz de “aparência científica” forma, em conjunto com a maneira de funcionamento da estrutura do capitalismo (destacando-se na “superestrutura” desse modo de produção), um grande sistema de ideias e produção de mercadorias que se estende pelo planeta, ultrapassando fronteiras e moldando comportamentos de bilhões de entes humanos, servindo aos interesses egoístas de uma minoria de indivíduos e orientando a ação dos Estados capitalistas submetidos a modelos de “democracia liberal representativa” em um esquema onde, como disse Noam Chomsky “(…) os custos e riscos são socializados ao máximo possível, enquanto o lucro é privatizado.”. Ao mesmo tempo temos ainda na China, país mais populoso do mundo e hoje “economia mais forte do globo”, a imposição de uma ideologia que se apresenta como coletivista, mas, que na prática é mais uma forma diferenciada de controle social combinada a técnicas científicas de monitoramento, padronização de comportamentos e intensificação da exploração da força de trabalho.

Diante do que foi descrito, como fica uma tentativa metafísica de interpretação do mundo tal como é a Filosofia de Schopenhauer apresentada em “O mundo como Vontade e Representação”? Podemos dizer que essa Filosofia ainda é muito relevante como base teórica para interpretação da realidade, dado que não oferece projeto algum ou imposição de fins, mas, é uma tentativa de compreender as forças que impulsionam o agir humano e que parecem estar presentes em toda a natureza.
Schopenhauer oferece uma explicação carregada de elementos trágicos, pessimista, sobre o mundo, mas, esse olhar pode ser útil para nos manter atentos diante do que acontece nas sociedades humanas, a nosso redor, nos deixando sempre alertas e precavidos contra armadilhas ideológicas e aparências de verdade, afirmadas (de forma muitas vezes disfarçadas) por quem deseja manter poder e controle na espécie; lembrando que a ação voraz da espécie afeta o conjunto da natureza e que reconhecer a unidade da Vontade como essência comum, bem como o sofrimento inerente à vida pressionada pela Vontade, uma existência recheada de insatisfações (algo muito intenso em nossa espécie, mas, presente, também, nas demais) é já um primeiro passo para a busca de minimização desse sofrimento ou, pelo menos, algo que pode nos ajudar a suportá-lo mais sobriamente.

A teoria pessimista de Schopenhauer é um consolo. Em contraste com a mentalidade atual, sua metafísica oferece a mais profunda fundamentação da moral, sem entrar em contradição com o conhecimento científico e, sobretudo, sem recorrer à representação de espíritos sobrenaturais, eternos, bons ou maus. Com a ideia da morte vincula-se não apenas a certeza no desaparecimento do eu, determinada por ela, mas também a preocupação, em um intervalo que não pode ser previsto – o tempo é subjetivo –, com o instinto imperecível de voltar à vida enquanto ser vivo, planta, animal microscopicamente pequeno ou grande, seja na Terra ou em outro astro qualquer. Tal noção aponta simplesmente para a identidade do vivo e consegue fundar a solidariedade com todas as criaturas bem antes da morte. Cada um se identifica até com o mais precário ser. A teoria da identidade da vontade está hoje mais próxima daquele que medita seriamente do que os argumentos ligados a dogmas tradicionais da filosofia moderna. Esta queria conciliar religião e ciência, oferecer provas rígidas para a existência do criador extraterreno, sem colocar em questão os mandamentos religiosos, socialmente condicionados, das convicções religiosas. (“O pensamento de Schopenhauer em relação à ciência e à religião”; M. Horkheimer; p.127; tradução de Flamarion Caldeira Ramos).


Obviamente Schopenhauer destoa da dialética que foi tomada como uma base pela Escola de Frankfurt, embora o conflito no mundo seja identificado tanto por Schopenhauer quanto pela dialética derivada de Marx (identificado de forma diversa, mas, apontado por ambas as linhas de pensamento) o qual partiu de Hegel.
Não há nenhum ideal teleológico, um fim almejado, um sentido determinado (e idealizado filosoficamente para a vida humana) em Schopenhauer, ao contrário do projeto do “Materialismo Histórico Dialético” de Marx e Engels e seu “Socialismo Científico” que almejam a revolução social para se chegar a um mundo livre e igualitário em um futuro comunismo (a “utopia” socialista). Mas, com relação à Teoria Crítica (inspirada no Materialismo Marxista), a necessidade de encarar o presente e a realidade dada, “sem maquiagens”, é algo que essa Filosofia guarda em comum com o Filósofo da Vontade.
Horkheimer vai destacar o reconhecimento do sofrimento humano no mundo diante do qual toda doutrina ideológica é menor, ou seja, um ideal ideológico não vale mais que o sofrimento das pessoas, sacrificar vidas para atender volições ideológicas, que podem estar escondendo meros interesses e desejos individuais (subjetivos), não é algo razoável, de forma que cabe à Teoria Crítica manter uma postura autocrítica constante diante da ambição de construir um projeto de emancipação humana calcado no que as condições vigentes apresentam.

Atual é Schopenhauer, assinala Horkheimer, porque hoje, mais ainda do que em seu tempo, o progresso da civilização demonstrou ser aquilo que, em sua obra, já se desmascarava em sentenças tão inconformadas quanto amargas. Saltava-lhe aos olhos que a marcha triunfal do progresso não passava da manifestação da Vontade inconsciente de si mesma em sua crueza irracional e autodevoradora. Repetirá, incansável, que o processo histórico é uma eterna repetição do mesmo com outros nomes e sob outras roupagens. E contudo, nessa clarividência esteve sozinho. Contra toda sua época, que em uníssono idolatrou a história como contínua e necessária progressão rumo ao melhor, Schopenhauer escreveu como um profeta a maldizer seu tempo, enquanto seus contemporâneos deixavam seu vaticínio cair no vazio. Seu grande valor: o de não ter sucumbido a nenhuma tentativa de racionalizar o horror e a injustiça reinantes na história. Foi lúcido e honesto o bastante para discernir, por trás da apologia do progresso a qualquer preço, mais um ardil da razão a disfarçar o interesse material, o afã da existência, bem-estar e poder que governam a história. Compreendeu melhor do que ninguém em seu tempo que todo progresso pagava-se com novas penas, para cuja realização impunha-se a representação de algo melhor. (Chiarello, Mauricio. G. “Das Lágrimas das coisas. Estudo sobre o conceito de natureza em Max Horkheimer”; p. 195-196; retirado de: “Horkheimer leitor de Schopenhauer: uma tradução e um breve comentário”; Flamarion Caldeira Ramos).



A Filosofia de Schopenhauer se opõe a toda tentativa de interpretar a realidade com base em perspectivas teleológicas que pressuponham um suposto “progresso” não apenas na história das sociedades humanas, mas, também, no própria Natureza-Universo (como é o caso do Hegelianismo que recorre a dialética para tal).
As teorias filosóficas que afirmam um progresso geralmente tendem a justificar as atrocidades que acontecem na história e no mundo como partes de um processo que culminará com algo melhor no futuro, isso se assemelha às religiões que profetizam catástrofes e, ao mesmo tempo, uma redenção futura dos “escolhidos” (em especial é o caso do Cristianismo).(nota 2).
Schopenhauer expressava em seus textos uma narrativa trágica sobre o mundo, pessimista, mas, ao mesmo tempo Horkheimer reconhecia no filósofo da Vontade a ostentação de uma visão moral que poderia ser um contraponto muito positivo ao predomínio da fria “racionalidade instrumental” em um mundo dominado por técnicas de controle e produção em massa, esvaziado de sentido e subjugado a interesses do mercado ou de grupos que controlam Estados. A noção schopenhauriana de “unidade da Vontade” e a fundamentação metafísica que Schopenhauer apresenta para o agir ético (destacando a compaixão), são como gritos de protesto contra as mazelas do mundo (as mazelas naturais e as geradas por “partes” da própria humanidade na ânsia de dominação e egoísmo).

(...)o pensamento de Schopenhauer, apesar de marcado pelo pessimismo, constitui um consolo positivo, pois ainda representa a tentativa de buscar um significado moral do mundo para além do positivismo e em contraste com a completa socialização levada a cabo pela sociedade totalmente administrada. Sua teoria, apesar de antecipar e justificar o pessimismo dos dias de hoje, “não é, de modo algum, tão pessimista quanto a absolutização da ciência”. Ela pode “fundar uma solidariedade que, de maneira não dogmática, contém em si momentos teológicos”, pois o “pessimismo une experiências histórico-filosóficas com a herança da grande teologia. Sua difusão poderia ocasionar muito mais o bem do que a formação cada vez mais, e em toda parte, exclusivamente profissional”.(“Horkheimer leitor de Schopenhauer:uma tradução e um breve comentário” ; p.112; Flamarion Caldeira Ramos).



Horkheimer em uma determinada fase de sua produção filosófica se aproximou muito do pessimismo schopenhauriano e até mesmo demonstrou uma visão mais nebulosa com relação ao que vislumbrava estar acontecendo com a humanidade perdida em meio ao turbilhão de tecnologias novas e sem um projeto consistente e eficaz de autonomia e elevação da espécie a estilos de vida mais dignos e “justos” que usufruíssem realmente das conquistas das ciências para algo mais positivo (em uma perspectiva coletiva e em harmonia com a natureza). Tudo isso parecia estar fadado ao fracasso, os oníricos projetos do Iluminismo haviam sucumbido na violência dos regimes totalitários e na voracidade do mercado capitalista que transformava cada vez mais humanos em objetos, “máquinas orgânicas” treinadas para o trabalho e consumo, peças de uma grande engrenagem, como Chaplin ilustrou muito bem em “Tempos Modernos”.

O curso presente da sociedade é uma justificação do pessimismo que Schopenhauer pressentia, mas ainda não era capaz de analisar. A alma humana se desenvolve em direção a uma função automatizada, próxima à do computador. Nenhuma emoção conta ainda se não for enquadrada na realidade apreendida pela ciência. Quanto mais o pensamento humano tenha de reduzir-se decididamente à atividade puramente instrumental, tanto mais a comprovação de cultura corresponderá com precisão à convicção de Schopenhauer de que “a nossa condição é ao mesmo tempo extremamente miserável e pecaminosa” – mesmo quando, poder-se-ia acrescentar, a igualdade da humanidade funcionando como espécie, depois das épocas bárbaras do passado, devia expandir-se. (“O pensamento de Schopenhauer em relação à ciência e à religião”; M. Horkheimer; p. 127. Retirado do artigo “Horkheimer leitor de Schopenhauer: uma tradução e um breve comentário”; Flamarion Caldeira Ramos).


Não podemos afirmar com certeza o que Schopenhauer e Horkheimer diriam sobre o mundo contemporâneo (2019) se estivessem vivos hoje, mas, podemos imaginar que não seria nada muito agradável ou otimista, levando em consideração o avanço das tecnologias geradas pelo acúmulo de conhecimento científico, comparadas ao estado lastimável em que bilhões de pessoas vivem hoje no mundo (dominado pelo modo capitalista de produção). A lista é grande: muitos regimes autoritários e pseudo-democracias problemáticas onde imperam a desigualdade; exploração de trabalho de multidões; predomínio da pobreza; armas de destruição em massa cada vez mais eficientes e potentes; guerras e massacres; ignorância assombrosa; desperdício de vidas; depressão e desespero; refugiados morrendo afogados no mar; dementes no poder; movimentos afirmando que a “Terra é plana”, etc. E tudo isso sob intenso planejamento e violento controle, diante dos “olhos” de câmeras de monitoramento, em uma época em que quase todos carregam seus próprios vigias no bolso, minis “big brothers” equipados com “GPS” (quando não estão imersos no delírio do mundo “virtual” da Internet). A Natureza agoniza atacada por uma parte dela mesma: pela espécie que “sabe que sabe”.




Bibliografia:

HORKHEIMER, Max. Eclipse da Razão. Tradução de Sebastião Uchoa Leite. São Paulo: Centauro, 2002.

HORKHEIMER, Max. O pensamento de Schopenhauer em relação à ciência e à religião; r, 127. Tradução de Flamarion Caldeira Ramos. Disponível em:
http://ficem.fflch.usp.br/sites/ficem.fflch.usp.br/files/OpensamentodeSchopenhauer.pdf ou em http://www.revistas.usp.br/filosofiaalema/article/view/64799/67416 .

NIETZSCHE, Friedrich. Genealogia da Moral. Tradução de Paulo César de Souza.São Paulo: Companhia das Letras, 1998.

RAMOS, Flamarion Caldeira. Horkheimer leitor de Schopenhauer: uma tradução e um breve comentário.
(Artigo). Disponível em http://www.revistas.usp.br/filosofiaalema/article/view/64799/67416

SCHOPENHAUER, Arthur. O Mundo Como Vontade e Como Representação. Trad. Jair Barboza. São Paulo: Editora UNESP, 2005.


Notas :

1-Aqui podemos pensar em como a chamada “pós-modernidade” revela consequências da exacerbação do “uso da racionalidade subjetiva” em detrimento da “racionalidade objetiva” ou de como parece ser uma “reação” (quando abordada destacando-se os discursos de apologia -ou identificados com o “pós-modernismo”- no campo da Filosofia ou mesmo quando se observa a chamada arte “pós-moderna”) aos resultados negativos gerados pela “racionalidade instrumental”, mas, tal tema deixaremos para uma outra oportunidade, poderia ser desenvolvido em outro artigo, visto não ser o objetivo específico do presente trabalho. 

2-“Schopenhauer fundamentou filosoficamente o amor ao próximo, à criatura em geral, sem sequer tocar nas hoje questionáveis afirmações e prescrições das religiões. Seu pensamento não é, de modo algum, tão pessimista quanto a absolutização da ciência”. (“O pensamento de Schopenhauer em relação à ciência e à religião”; Max Horkheimer; p.127; tradução de Flamarion Caldeira Ramos. Disponível em:

domingo, 17 de novembro de 2019

O animal que "sabe que sabe".



O animal que "sabe que sabe".

por Paulo Vinícius
(Professor de Filosofia e Sociologia)


Recorrer ao "argumento" da "cadeia alimentar" ou "suposta superioridade da espécie" para justificar comportamentos humanos com relação a outras espécies, não é bom argumento e pode gerar posicionamentos incoerentes sobre o que se almeja para a própria espécie.

A espécie humana tem como uma de suas características a capacidade racional para discernir entre opções complexas apresentadas com base em conhecimento prévio e conceitos abstratos, de forma consciente e autoconsciente (percebendo o próprio processo e suas etapas). Comparar a espécie humana com o que fazem outras espécies (que agem frequentemente por mero instinto) na maioria das vezes é exemplo de erro grosseiro, falácia.

Quando se força uma analogia entre a espécie humana e as demais, no que diz respeito, por exemplo, a questão da alimentação, para se tentar justificar a alimentação baseada em carne (sem critérios), esquecendo que outros animais agem, na maioria das vezes, por impulso instintivo e não possuem discernimento racional sobre o que fazem, enquanto a espécie humana organiza uma indústria da carne e derivados de animais em escala global (onde milhões de animais morrem diariamente de forma violenta para satisfazer prazeres humanos, a maioria desnecessários) o erro da comparação é ainda mais tosco.

Se um sujeito critica a exacerbação do individualismo, exploração, competição e uso do "darwinismo social" (o discurso de que "mais fortes ou mais bem adaptados" devem realmente dominar os demais) por liberais e neoliberais que recorrem a isso para justificar a "exploração de humanos sobre humanos" nas sociedades capitalistas (assim como nazifascistas fazem, de forma ainda mais escancarada, nas sociedades onde essa ideologia racista e autoritária domina), se indigna com o uso de ideologias para "legitimar" a pobreza e desigualdade ou mesmo quando o sujeito repudia que alguns (ou uma classe específica) imponham violentamente seus interesses aos demais (vistos como "fracassados ou inferiores"), então, tal sujeito não deveria, fazer o uso de argumento semelhante para justificar a exploração humana de outras espécies animais apenas por ser mais conveniente ao seu "gosto pessoal", afirmando que "por sermos superiores as demais espécies e estarmos no topo da cadeia alimentar devemos, então, fazer o que é da nossa vontade e usar outras espécies como desejarmos", pois, "seria de acordo com a natureza"; tal posição é uma incoerência descarada, já que assume aspectos de ideologias as quais para a espécie humana condena , mas, que aplicadas a outras espécies afirma como "justificáveis".

Não há argumento razoável para afirmar a superioridade da "espécie humana" (o que se toma como referência?) como um "critério ético", e os supostos "argumentos" que são geralmente usados são muito semelhantes aos discursos ideológicos usados para justificar hierarquias de poder no interior da própria espécie. Mas se o critério for a superioridade intelectual e capacidade racional ( o que permite a espécie pensar sobre si e sobre o mundo onde está inserida , a natureza da qual é uma manifestação consciente), então, o desfecho do raciocínio é outro e encontramos algo como uma "responsabilidade da espécie diante da natureza" ao contrário de uma "afirmação egoísta" que seria uma auto-condenação assumida e que racionalmente facilmente pode ser criticada como estupidez, capaz de gerar danos para a própria espécie quando os efeitos da ação abalam ecossistemas em um planeta onde há , como podemos perceber, uma interação sistemática entre quase todas as formas de vida (bem como, também, com a matéria inorgânica afetada pela ação humana).

Obviamente se buscarmos construir uma Ética que oriente a relação da espécie humana com as demais, os critérios do sofrimento e dor são básicos, assim como o critério da liberdade alheia e da manutenção de equilíbrio ambiental (no entanto "dor e sofrimento" aparecem como primordiais). Para enlaçar essas preocupações o ideal de planejamento social, visando a melhoria da qualidade de vida da própria espécie humana no planeta é algo que se mantém implícito e a forma como tratarmos as demais espécies e a natureza como um todo será sempre um espelho da forma como tratamos a nossos próprios semelhantes no interior da espécie humana.

A denúncia (enquanto a ação efetiva não é possível) é importante para tentar despertar o esclarecimento e dar voz aos que não podem protestar ou defenderem-se a si mesmos. Apontar a violência contra as demais espécies e a destruição do ambiente guarda semelhança com as denúncias sociais que revelam a exploração e a miséria nas sociedades humanas.







Disponível, também, em:
http://opensadorselvagem.org/ciencia-e-humanidades/panta-rhei-poesiasofia/bioetica/

quinta-feira, 8 de agosto de 2019

A tragicomédia contemporânea brasileira, em resumo. Das manifestações de junho de 2013 ao governo Bolsonaro em 2019.




A tragicomédia contemporânea brasileira, em resumo.
Das manifestações de junho de 2013 ao governo Bolsonaro em 2019.

por
 Paulo Vinícius Nascimento Coelho
(Professor de Filosofia e Sociologia; Cientista Social; Especialista em Pensamento Político).

Para entendermos o que acontece na arena política institucional brasileira, bem como a crise social e econômica no Brasil, é preciso levar em consideração a situação do país no contexto contemporâneo da “globalização do mercado capitalista” e o embate entre grandes potências (bélicas e econômicas), buscando identificar as estratégias da classe que controla os meios de produção e manipula o Estado, isso sob uma perspectiva orientada por observações pautadas na geopolítica internacional.
Como os discursos ideológicos e disputas de poder (em escala nacional e global) afetam a cultura, e os meios usados para tal, também, devem ser analisados. 

Partindo dos pressupostos básicos lembrados acima, vamos tentar fazer um levantamento dos principais eventos que mexeram com o jogo político no Brasil de 2013 até hoje (2019), apresentar uma tentativa de síntese e análise( obviamente de forma não muito estendida ou aprofundada, dado o espaço destinado para este texto) sobre o que podemos chamar de “a tragicomédia contemporânea brasileira”.

Identificamos em 2019, no Brasil, a realização de um projeto de subjugação do Estado e da sociedade aos interesses de grandes empresas que orientam o governo dos EUA, Inglaterra e União Europeia. Brincam com a arena política institucional brasileira, compram ou chantageiam o sistema judiciário no Brasil e usam seus fantoches políticos, apoiados por grande parte da mídia privada de massa e igrejas evangélicas, para sabotarem e destruírem a educação, ciência, arte e intelectualidade brasileiras, no intuito de moldar uma população afundada na ignorância, adestrada de acordo com os interesses estrangeiros.
Com auxílio das novas tecnologias de comunicação via internet e celulares (redes sociais, grupos de Whatsapp, robôs virtuais, programas de sondagem no mundo virtual...), falsas notícias são propagadas vinte e quatro horas por dia para milhões de pessoas, em acelerado ritmo.
Como já denunciado por Edward Snowden (o ex agente do alto escalão da NSA) e pelo site Wikileaks de Julian Assange (preso no Reino Unido à espera de julgamento, por ousar enfrentar o imperialismo estadunidense e seus adestrados aliados) é possível monitorar, gravar, filmar, vigiar, boa parte da população do planeta, sendo que todo computador e celular, hoje, podem ser  escutas.
O governo dos EUA possui tecnologia para “grampear” quase o mundo todo e, como se isso não bastasse, há empresas privadas que também possuem tecnologias semelhantes, como exemplo a infame (e supostamente extinta)  “Cambridge Analityca”, fundada por Steve Bannon (mentor intelectual de Donald Trump), empresa acusada de ter manipulado as últimas eleições à presidência nos EUA (beneficiando Trump) bem como as eleições que promoveram a retirada da Inglaterra da União Europeia (o Brexit).
A Cambridge Analityca, ainda antes do escândalo do Facebook (quando todo o esquema de invasão de perfis, coleta de dados e direcionamento psicológico de opinião, via propaganda ideológica e “fake news” foi exposto ao público e obrigou Mark Zuckerberg a ter que se explicar no senado dos EUA), prometeu atuar na última eleição à presidência no Brasil ao final de 2018 e foi o que certamente aconteceu dado que o candidato conservador, e retrógrado de Direita, Jair Bolsonaro, venceu a eleição.
Logo que assumiu a presidência, Bolsonaro visitou os EUA e se reuniu pessoalmente com seu guru pessoal, o astrólogo, hábil retórico e “sofista”, Olavo de Carvalho e com Steve Bannon.

O plano de dominação do Brasil por parte de uma Direita entreguista e ultraconservadora (no campo moral e político), vem sendo elaborado já há algum tempo, não foi de uma hora para outra que Bolsonaro ascendeu como figura de destaque no circo político “verde amarelo”. O “mito” foi forjado, construído com muita propaganda ideológica espalhada em grupos de Facebook, vídeos no YouTube (onde canais e “youtubers” de Direita proliferam) e programas apelativos em canais da mídia privada brasileira.

 Ao mesmo tempo em que se lapidava a imagem de um “falso mito”, setores conservadores e antipatrióticos das forças armadas foram instigados.  As “múmias” da época da ditadura (generais da reserva) foram despertadas de suas tumbas sombrias, e muita psicologia, aliada a técnicas de publicidade, foi utilizada negativamente para despertar as emoções mais chulas em uma parcela da população (em especial boa parte da chamada “classe média”) que, embora, com acesso à educação, não desenvolveu de forma adequada (ou mais profunda, refinada...) capacidades intelectuais (racionais), guardadas em “potência”, nutrindo ainda, sem autocrítica ou reflexão, impulsos primitivos de egoísmo e “autopreservação”, tudo isso alimentado por um cenário de “caos social” onde um “inimigo vermelho”, imaginário, estaria supostamente “destruindo os valores tradicionais das famílias dos cidadãos de bem”; para tal foi ressuscitado um discurso apelativo da época da guerra fria, um “macarthismo” tosco, apontado contra a “ameaça comunista” representada pelo PT, partidos e movimentos de Esquerda ou qualquer ideologia que se colocasse, mesmo que aparentemente, como oposição ao ideal Liberal Econômico combinado ao Conservadorismo Moral e Político.

Durante as gestões petistas, o PT - em parceria com PC do B-  agindo no poder como “Centro-Esquerda” reformista, e aliado com partidos de Centro-Direita e Direita (tais como o PMDB - hoje novamente MDB e ainda o maior partido do Brasil-, o PSC e PP), com a desculpa de garantir a governabilidade”, passou a representar (no discurso de ataque promovido por uma Direita que se fortalecia) toda a “Esquerda”. A Direita passava por cima do fato de que, para a Esquerda Socialista mais radical, PT e PC do B fossem classificados como “partidos traidores” que estariam beneficiando a burguesia nacional e sabotando os movimentos de base e, por tais motivos, eram duramente criticados.
Os erros e supostos “crimes” petistas foram apontados como “erros e crimes” de todo movimento Socialista no Brasil, mesmo dos movimentos e partidos que faziam oposição de Esquerda ao PT.

Os partidos de Direita, aliados do PT no governo (e que nunca engoliram realmente o governo petista), com a entrada de Dilma foram progressivamente se afastando do PT, mesmo com Temer na vice-presidência (algo que, na época, foi visto como grande absurdo por parte da Esquerda Socialista (incluindo movimentos anarquistas de cunho “Socialista Libertário”) que insistia em acusar o Partido dos Trabalhadores de traição e afirmava que o PMDB iria “apunhalar o PT pelas costas”, o que era algo bem óbvio na verdade e foi o que aconteceu afinal).

 PMDB, PSC e PP se aproximaram da oposição de Direita e Centro-Direita formada principalmente por PSDB e DEM (um dos resquícios da ARENA, assim como o PP).
Durante as gestões do PT, até o fim do primeiro mandato de Dilma, Bolsonaro foi filiado ao PP de Maluf (grupo que fez parte da antiga ARENA, no início dos anos 80 virou  PDS, depois PPB e hoje “Progressistas”; força política que defendeu a ditadura militar e foi contra o movimento “Diretas Já”) e, portanto, foi da base dos governos Lula e Dilma; há inclusive vídeos da época da gestão Lula mostrando Bolsonaro dizendo abertamente que votou em Lula e elogiando Genuíno, pois, acreditava que ao “puxar o saco” de figuras do alto escalão do governo, talvez, pudesse ser indicado para algum cargo importante como “ministro da defesa”, (uma grande ironia da história).

Acusações de corrupção se avolumavam na mídia privada de massa contra o PT desde o primeiro ano da gestão Lula (o “Mensalão”, por exemplo) e o partido se afundava cada vez mais no lamaçal do jogo da democracia liberal representativa “made in Brazil” fazendo acordos escusos com grandes empresas brasileiras (em especial empreiteiras como a OAS e Odebrecht) que investiram muito dinheiro via “caixa 2” nas campanhas do partido e de seus aliados.
A Odebrecht, como delatado por Marcelo Odebrecht, também, patrocinava partidos da oposição ao PT, em especial o PSDB, pois, queria manipular o jogo político a seu favor, de forma que, independente de quem vencesse as eleições, teria depois facilidades para vencer licitações fraudulentas e realizar obras superfaturadas (como ocorreu, por exemplo, nas obras para a Copa do Mundo de 2014 ou obras realizadas para a Petrobrás).

O PT tinha claramente um projeto de perpetuação de poder baseado em alianças com a burguesia nacional e apostou nisso, por outro lado parte da burguesia nacional que não se via contemplada pelos governos petistas (empresas ligadas a FIESP no caso do sudeste) ou que já caia na propaganda da “ameaça comunista” e do suposto perigo representado pelo “Fórum de São Paulo” (balelas espalhadas com sucesso por Olavo de Carvalho e seus seguidores) se uniu fortemente em torno do PSDB-DEM e setores do PMDB e PP e passou a boicotar, de todas as formas possíveis, os governos petistas, com apoio da Rede Globo, Bandeirantes, SBT e algumas lideranças evangélicas apelativas (porém influentes) como Malafaia e o deputado Marco Feliciano (um sociopata agitador que recentemente gastou mais de 150 mil reais do dinheiro público para arrumar os dentes via plano de saúde da câmara dos deputados).

O PT, que havia se distanciado da Esquerda Socialista, de forma completamente irresponsável (ou intencional) fez o possível para desmobilizar a classe trabalhadora brasileira tentando monopolizar o controle sobre sindicatos através da CUT e, também, atuando eficazmente no movimento estudantil, enfraqueceu a Esquerda mais radical (a qual decaiu, se restringindo a correntes de partidos sem muita força como PSOL, PSTU, o antigo, mas encolhido, PCB, movimentos sociais isolados e grupos anarquistas pequenos e fragmentados).

Em um cenário de crise mundial do capitalismo que começou em 2008 nos EUA e atingiu Inglaterra e U.E., o Estado brasileiro, na época ainda sob gestão petista, revelou que a maior estatal do país (Petrobrás) havia descoberto enormes reservas de petróleo, o “pré-sal”. Nos EUA Obama (Democratas) era o presidente e usou bilhões de dólares, dinheiro público, para salvar empresas (como a GM) que, por conta da crise, estavam à beira da falência.

Em 2013 ainda sob governo Obama nos EUA e PT no Brasil, Snowden denuncia que o governo dos EUA, por intermédio da NSA, estava espionando o governo Dilma e a Petrobrás com auxílio do Canadá. Na época Dilma fez um discurso de protesto na ONU e o escândalo estourou na mídia internacional. Snowden revelou, entre outras coisas, que o governo da Alemanha também estava sendo vigiado por suas aproximações com o bloco do BRICS e que a NSA tinha capacidade para parar um país aliado (como o Japão) caso esse se aproximasse de inimigos dos EUA (poderiam parar centrais de energia, ferrovias, aeroportos, usinas nucleares, gerando um caos no país). No caso do Brasil havia uma grande preocupação de que o país se tornasse uma grande potência na América Latina (sendo que alguns economistas imaginavam que Brasil, Índia e África do Sul – países membros do BRICS- poderiam, em cinquenta anos, se tornar potências) o que batia de frente com o projeto imperialista estadunidense, afinal, desde que se tornou uma potência em ascensão ao final do século XIX, o EUA passou a encarar a América Latina como seu quintal. O Brasil era um país em crescente desenvolvimento, uma economia forte, com enorme potencial, portanto, uma ameaça aos EUA.
De olho no jogo geopolítico internacional, a potência norte americana traçou ainda, durante o governo Obama, um plano de enfrentamento contra os interesses de Rússia e China no globo.

A China se aproximava cada vez mais da América Latina e pretendia construir uma estrada de ferro que cortaria a América do Sul (do Pacífico ao Atlântico) passando pela Bolívia (rica em gás natural e governada por Evo Morales, anti-EUA), Brasil e fazendo conexão com a Venezuela (que detém a maior reserva de petróleo do mundo e estava já sob controle do chavismo).
 Brasil, Bolívia, Venezuela, Uruguai e Argentina formavam uma aliança militar chamada Unasul (que foi extinta por Temer) e eram governados por partidos que ostentavam discursos de Esquerda e programas de desenvolvimento econômico nacional, combinados a políticas populares de benefícios para a classe trabalhadora (dentro do espectro “social democrata”, keynesiano, reformista ou “bolivariano-chavista” no caso venezuelano, por exemplo).

No plano de reação estadunidense para “virar o jogo”, dada a crise grave pela qual os EUA e Grã-Bretanha passavam, surge a chamada “primavera árabe”, um engodo pseudo-revolucionário promovido pelos EUA para derrubar governos aliados da Rússia e se apoderar de reservas importantes de petróleo, como aconteceu na Líbia onde até mesmo ataques aéreos foram realizados pelos EUA em parceria com a Inglaterra e França.
A “primavera árabe” avançou enquanto a Rússia de Putin (ex agente da KGB) resolvia um embate bélico e territorial com a Ucrânia (ex república soviética e fonte importante de gás natural) onde um governo pró Rússia havia sido derrubado por um levante popular patrocinado pelos EUA e um governo aliado dos EUA e U.E assumiu dando início a uma perseguição contra pessoas de etnia russa no país.
A Rússia anexa a Criméia (região estratégica) novamente a seu território, tomando essa importante região da Ucrânia.

No Brasil, a espionagem estadunidense alimentou a operação “Lava Jato” (que começou em março de 2014). A farsa da “Lava Jato” de Sérgio Moro e Deltan Dallagnol, hoje desvendada pelo site jornalístico “The Intercept Brasil”, foi montada para derrubar o governo petista que se aproximava cada vez mais da Rússia e China e colocava em prática um plano de alianças com Cuba, países vizinhos (na Unasul) e países Africanos. Muitos países com governos próximos ao governo brasileiro receberam, para obras de infraestrutura, financiamentos do BNDES, algumas que poderiam beneficiar economicamente o Brasil (tal como era supostamente o caso do porto em Cuba na América Central).

O PT conduzia um projeto de poder que era oposto aos interesses de empresas estadunidenses já que se fortalecia no BRICS. Com a “Lava Jato” foi fácil abalar a economia brasileira, enfraquecer o governo e sabotar a Petrobrás o que foi facilitado, obviamente, pelas tramóias que o próprio PT já fazia no poder.
O combate a “corrupção” (que, como sempre, rolava no estado brasileiro incitada por grandes empresas que financiavam políticos e partidos do governo) foi usado como pretexto e alardeado pela mídia, serviu muito bem para convencer milhares de brasileiros de que o governo estava operando uma “rapina homérica” contra o país.

Em 2016 o PT é derrubado, perdendo o governo.

Mas, qual a sequência dos eventos?

Em junho de 2013 o Brasil cai em uma “catarse coletiva”, manifestações que começam em grandes capitais como São Paulo Rio de Janeiro e Porto Alegre, por conta do aumento nas passagens de ônibus coletivos urbanos, espalham uma revolta por todo o país. Manifestações são organizadas via redes sociais, grupos autodenominados “Anonymous”, jovens usando máscaras do filme “V de Vingança” e táticas “black blocs” tomam as ruas. Muitas manifestações com milhares de pessoas por centenas de cidades brasileiras clamam por mudanças no Brasil seguindo pautas indefinidas e aos gritos de “sem partido” rechaçam bandeiras de partidos tradicionais. A capital Brasília é tomada, o congresso nacional é cercado e o mesmo acontece em outras importantes cidades onde manifestantes cercam assembleias legislativas estaduais ou tentam ocupar câmaras de vereadores (por exemplo o caso de Santa Maria-RS onde o incêndio na Boate Kiss que matou 242 jovens alimentou ainda mais a revolta popular). As manifestações eram quase diárias e os enfrentamentos contra as polícias militares se tornavam cada vez mais violentos, enquanto isso a popularidade de Dilma caia vertiginosamente e a Direita começava a tentar cooptar as manifestações via redes sociais.

Na corrida eleitoral ao final de 2013 o candidato do PSB (que na gestão Lula havia sido um fiel aliado do PT), Eduardo Campos, morre em um suspeito acidente de avião e a disputa vai para o segundo turno com Dilma (PT) e Aécio Neves (PSDB).
 Aécio era, sem dúvida, o candidato preferido de Washington e certamente se Eduardo Campos (que tinha como vice Marina, na época com um forte eleitorado, pois, em eleições anteriores havia ficado em terceiro lugar e ajudado a eleger muitos deputados estaduais e federais pelo PV, partido do qual se afastou para fundar a Rede) não tivesse falecido, muito provavelmente, iria para o segundo turno, visto que tinha um apelo carismático muito maior que Aécio; se tal acontecesse o cenário seria completamente diferente: Eduardo Campos poderia vencer no segundo turno (por ser uma opção alternativa) e o PT poderia escolher em se aliar com o PSB no governo ou se fortalecer na oposição, fazendo com que a Direita ficasse desorientada como oposição e, então, os planos dos EUA demorariam mais para serem realizados.

Dilma vence e enfrenta  em 2014 manifestações contra a Copa do Mundo da FIFA (na qual a seleção é vergonhosamente derrotada, de forma muito estranha, de 7 a 1 pela Alemanha); o governo usa o exército para reprimir manifestações e a presidente assina uma lei “antiterrorismo” a qual é usada para prender manifestantes contra o governo ou que em 2013 haviam enfrentado tropas de choque nas ruas das grandes capitais, em especial os chamados “black blocs”. Para a realização da Copa do Brasil muitas pessoas pobres foram expulsas de suas casas para construção de obras superfaturadas para o evento, muita grana pública foi desperdiçada em estádios e obras que ficaram inacabadas (tudo para benefício das empresas empreiteiras que financiaram as campanhas do PT e aliados). É importante lembrar que as críticas da Esquerda Socialista e Anarquistas continuaram contra os erros do governo que nada fazia para evitar as mortes de povos indígenas no interior da Amazônia e nos estados do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul (em destaque o caso de Belo Monte e dos índios Guarani Kaiowá), bem como não resolvia o problema da reforma agrária no país (para contentar a bancada ruralista) e não avançava muito para acabar com a extrema desigualdade social, embora, comparado a governos anteriores, é verdade que avanços mínimos ocorreram nas gestões petistas: houve uma diminuição da pobreza e instituições de ensino federais foram criadas em grande quantidade pelo país com um sistema de cotas que permitia que estudantes mais pobres tivessem maiores oportunidades para ingressarem no ensino superior, isso foi o suficiente para despertar o ódio mortal das “elites”.

A operação “Lava Jato” avança em 2014 e começa a mirar em políticos ligados ao PT o qual já tinha na prisão muitas de suas lideranças por causa do caso “Mensalão” (como José Dirceu e Genuíno).  Lula, que estava “aposentado”, afastado da arena política, e descansando boa parte do tempo em “um sítio de um amigo”, começa a ser mirado pela “lava jato”, mas, é só em 2016 que vira realmente réu e é acusado de ter recebido propina da empreiteira OAS em forma de um Tripléx no Guarujá e depois é acusado de ter recebido um sítio em Atibaia onde OAS e Odebrecht teriam supostamente realizado obras para agradar o ex presidente.

O PT continuava atrelado ao PMDB e na câmara dos deputados Eduardo Cunha (presidente da Câmara) chantageava o partido ameaçando aceitar pedidos de impeachment contra Dilma que tentava agradar setores da burguesia nomeando Joaquim Levy para o ministério da Economia e cortando gastos com programas sociais. A promessa dos “royalties do petróleo para saúde e educação” ficava cada vez mais no mundo “onírico” e, em 2016 finalmente a tragicomédia de Dilma chega ao fim com seu afastamento aprovado na câmara dos deputados, em um espetáculo grotesco conduzido por Eduardo Cunha (que depois foi preso) e com direito a showzinhos de deputados ridículos e apologia à tortura por parte do escroto e repugnante sociopata Bolsonaro que teve a petulância de elogiar o torturador (do período da ditadura) Carlos Alberto Brilhante Ustra e mencionar que o mesmo era o “terror de Dilma Rousseff” , ato que lhe valeu uma “gusparada” na cara (lançada por Jean Wyllys do PSOL, partido que foi formado por ex militantes expulsos do PT, na época do primeiro mandato de Lula, por criticarem as aproximações do partido para com a Direita).

Com a conivência do supremo (entre os quais muitos ministros indicados pelo próprio PT, o qual parece ter esquecido das lições básicas de Maquiavel quando nomeou tais juízes) o senado aprova o  impeachment e Dilma, acusada de cometer supostas “pedaladas fiscais” (algo realizado por governadores e presidentes anteriores), é afastada, para delírio dos “coxinhas” que festejavam, em ato organizado pelo MBL, “Revoltados On Line” e similares, na Avenida Paulista, com camisas da CBF, na frente do prédio da FIESP, seguindo um grande pato amarelo inflável.

O estopim para a onda do “Fora Dilma”, que acelerou seu afastamento, foi uma conversa “grampeada” da presidente com Lula, avisando que iria mandar um documento para o ex presidente usar “em caso de necessidade” para que assumisse o ministério da “casa civil”. A conversa, gravada ilegalmente, foi lançada pelo juiz Moro para a Rede Globo a qual fez um grande estardalhaço no Jornal Nacional em cadeia nacional e horário nobre. Lula foi acusado de estar tramando para conseguir “foro privilegiado”, mas, na verdade, além disso, havia sim uma tentativa tardia do PT para reagir às armadilhas em que o partido estava caindo (como “patinho”), colocando sua liderança máxima de volta no jogo, o que “não rolou”.

 Empresários ligados a empresas que estavam dando sustentação ao governo são presos como "bodes expiatórios" provisórios, os quais, após acordos, são soltos ou recebem redução de penas por “delação premiada”.

 Empresas envolvidas no “Escândalo da Lava jato” continuaram ativas, porém, com prejuízos, dado que era necessário abalar o crescimento econômico do país no intuito de subjugar o Brasil aos interesses dos EUA, o que foi realizado com sucesso.
O programa de construção de submarinos nucleares foi estagnado e o cientista brasileiro responsável foi preso, a compra de tecnologia e de caças suecos foi cancelada e, após a queda de Dilma em 2016, Temer inicia um programa de desmonte do Brasil e entrega do patrimônio público, rifando estatais e beneficiando petrolíferas estrangeiras as quais recebem do governo Temer isenções por vinte anos (o Brasil vai perder quase um trilhão de reais com essa “brincadeirinha”).

Enquanto Temer (acusado, pelo site Wikileaks, de ser informante dos EUA) negocia a entrega da Embraer para a Boing e vendia “a preço de banana” plataformas da Petrobrás (para China e Dubai) o senador José Serra (PSDB) consegue mobilizar aliados para votar no senado a retirada do monopólio da Petrobrás no monitoramento da exploração do “pré-sal”, cumprindo o que havia prometido (segundo o Wikileaks, também, denunciou) para grandes petrolíferas estrangeiras como Exxon e Chevron (as quais devem ter financiado sua campanha).

O PSDB quando estava no governo federal vendeu por três bilhões a estatal “Vale do Rio Doce” que era considerada na época a terceira maior mineradora do mundo, com instalações em outras regiões do mundo e com valor estipulado em mais de noventa bilhões de reais. Hoje a empresa, privatizada, é um exemplo de capitalismo selvagem exploratório, sugando as riquezas do solo brasileiro enquanto danifica o ambiente e provoca tragédias ambientais, matando centenas de pessoas com estouros de barragens (como o caso de Brumadinho), tudo “em nome do lucro”. FHC, a grande liderança do PSDB , pretendia, também, vender a Petrobrás e em seu governo tentaram mudar o nome da empresa para “PetrobarX” e vendeu boa parte das ações estatais da empresa para o capital privado.

Temer (MDB) consegue em seu governo, mesmo com uma baixíssima popularidade, aprovar a infame “reforma trabalhista” que flexibilizou leis trabalhistas, permitiu a terceirização generalizada, piorando ainda mais a situação dos trabalhadores no Brasil e provocando um aumento dos empregos informais sob contratos impostos por patrões e uma baixa geral dos salários, tudo isso em uma situação de crescente desemprego, mais de treze milhões de desempregados. Com apoio do PSDB-DEM-PP-PSC e da mídia (que, embora, pudesse algumas vezes criticar a figura do presidente, apoiava seu programa de governo) Temer congela por vinte anos o orçamento do país e investimentos em programas sociais com a PEC 55.

Em 2018 a corrida eleitoral para a presidência se acelera. Lula aparece em primeiro lugar nas pesquisas, muito a frente dos demais possíveis candidatos. No supremo a prisão em segunda instância é oficializada, mesmo contrariando a constituição que promulga que “uma pessoa só pode ser presa, por ser considerada culpada, condenada, após decorrer todo o devido processo legal até a última instância” (a não ser que realmente represente perigo para a sociedade). Habeas Corpus dos advogados de Lula são recusados. Moro determina a prisão de Lula em Curitiba.

 Uma multidão, gritando por resistência, cerca o sindicato dos metalúrgicos do ABC paulista, mas, Luiz Inácio, convencido por seus advogados, decide se entregar e até hoje se encontra em cela especial no prédio da polícia federal na capital do Paraná.
A Centro-Esquerda dividida lança seus candidatos: Ciro Gomes (PDT), Marina (Rede), o PSOL lança Boulos e o PT enrola na expectativa e esperança de que Lula pudesse ser solto e, também, como estratégia para continuar liderando a “Esquerda”, mas, no fim, acaba se aliando ao PC do B e lança Haddad como candidato com Manuela D’Ávila de vice.

O PSDB que desde o governo FHC se moveu drasticamente da Centro-Esquerda para a Direita, ainda aliado ao DEM (ex PFL) lança Alckmin (ex governador de SP) e Bolsonaro concorre pelo PSL (após pular do PP para o PSC e depois “Patriota”) o qual fecha chapa com General Mourão de Vice (um general declaradamente conservador , anti-socialista e pró EUA). O MDB lança o ministro da Economia do governo Temer , Henrique Meirelles, sem chance alguma.

Nos debates na tv, ao final de 2018, Bolsonaro, como era previsto, se sai bizarramente muito mal, sua estupidez é bem explícita e até Cabo Daciolo (Pelo “Patriota”) consegue se sair melhor, no entanto, mesmo com todo sua ignorância, Bolsonaro aparece em primeiro lugar nas pesquisas e  Ciro Gomes aparece como o candidato com melhores chances de vencer Bolsonaro no segundo turno.
A popularidade de Bolsonaro começa a cair com seu fracasso nos debates até que um fato inesperado acontece, um atentado muito suspeito contra a vida do candidato ocorre. Bolsonaro leva uma facada na barriga, um golpe que não provoca sangramento, cometido por um sujeito aparentemente com problemas mentais, ex filiado ao PSOL e que, curiosamente, frequentava o mesmo clube de tiro frequentado por um dos filhos de Bolsonaro. A facada comove parte da população e serve como um impulso para a campanha de Bolsonaro que não mais comparece aos debates, dada a “justificativa” do suposto ferimento e acaba indo para o segundo turno onde vence Haddad, o que era previsível.

O governo Bolsonaro com um simpatizante da ditadura de Pinochet no ministério da Fazenda (o “Chicago Boy”, neoliberal e arrogante conservador, Paulo Guedes) continua o programa de desmonte do Brasil iniciado por Temer, privatiza estatais (como a BR distribuidora e entrega definitiva da Embraer), e começa a rebaixar o brasil aos interesses dos EUA de Trump. Ministros inaptos , toscos e totalmente ignorantes são nomeados e começam a desviar a atenção pública com discursos e medidas absurdas enquanto o governo libera inúmeros agrotóxicos danosos à saúde (mais de 200), sabota serviços públicos e estatais que restam, corta recursos para educação, beneficia ruralistas e madeireiros, ataca povos indígenas e minorias e espalha a intolerância com muita violência simbólica e estupidez.

Bolsonaro sempre foi conhecido por falar as maiores asneiras e coisas violentas, defender a ditadura militar, tortura e morte de opositores políticos (há vídeos onde declara que “trinta mil deveriam ser mortos no Brasil” e que desejava “metralhar a petralhada”), ostentar discurso machista, racista e homofóbico e , para completar, bajular o governo dos EUA e dizer , mais de uma vez, que a “Amazônia” não era mais brasileira. Seu governo entregou logo nos primeiros meses a base de Alcântara (no Maranhão), a melhor do mundo para o lançamento de foguetes espaciais por ficar mais próxima à linha do Equador, para os EUA administrarem, a mesma base a qual, o governo FHC pretendia, também, entregar para os EUA,  e a qual (segundo denúncia do Wikileaks e de um general brasileiro da reserva) foi sabotada pelos EUA em 2003 (já governo Lula) quando ocorreu uma grande explosão no momento em que o Brasil tentava lançar um foguete brasileiro em parceria com a Ucrânia (que carregaria um satélite brasileiro), matando vinte e um cientistas.

Os cortes de verbas para as universidades vem atrasando as pesquisas científicas no Brasil e o governo Bolsonaro aumenta a censura sobre institutos de pesquisa pressionados a não liberarem dados que possam mostrar os estragos que a atual gestão vem fazendo ao país. O desmatamento na Amazônia aumenta de forma desenfreada, a pobreza e fome aumentam, a economia não se recupera e o governo sabota o próprio país, mantendo preços abusivos nos combustíveis segundo uma política  de preços atrelada ao mercado internacional para contentar acionistas privados, prejudicando assim a circulação de pessoas e mercadorias no Brasil. Bolsonaro , que se elegeu com “caixa 2” de empresas como a Havan (cujo dono deve milhões em impostos e chantageou funcionários para votarem no “mito”) , muita “Fake News” e auxílio de Cambridge Analityca, coloca o Brasil de joelhos aos interesses dos EUA. Recentemente navios iranianos que buscaram carga de milho no Brasil foram impedidos de abastecerem em porto brasileiro por causa das sanções dos EUA ao Irã e se dependesse de Bolsonaro ainda estariam parados sem abastecimento. 
A Lava jato está sendo escancarada pelas denúncias do Intercept que obteve conversas de Moro, Deltan e companhia, tramando contra Lula para influenciar a última eleição à presidência (vencida por Bolsonaro que nomeou Moro para o ministério da Justiça com poderes dilatados e confessou ter lhe prometido uma vaga no Supremo) e planejando desvios de recursos públicos para fins políticos-ideológicos e privados. Paira sobre toda essa história a suspeita morte de Teori Zavascki, juiz do Supremo que criticava Moro e que pretendia analisar o caso de Lula.

A família Bolsonaro está envolvida com a milícia no RJ e com suspeitos de terem assassinado a socióloga e vereadora Marielle Franco do PSOL. Há, também, indícios de que Flávio Bolsonaro surrupiava parte do salário de seus assessores, sem falar na lavagem de dinheiro e depósitos suspeitos do motorista Queiroz na conta da primeira dama, somado a isso há o nepotismo descarado de Bolsonaro que insiste em nomear seu filho desqualificado (Eduardo) para a embaixada do Brasil no EUA.

O Brasil abandona gradativamente o BRICS, a UNASUL acabou, ninguém mais fala em “royalties do petróleo para educação e saúde”, o Brasil se afunda no atraso em acelerado retrocesso, uma tragédia para o povo brasileiro. Infelizmente a propaganda ideológica intensa e muito bem planejada seduziu uma parcela relevante da população e a sociedade brasileira se encontra hoje dividida e refém dos fantoches políticos da classe dominante capitalista estrangeira, aliada a uma burguesia nacional parasita e “lesa pátria”.
A reforma da previdência (que obrigará os trabalhadores mais pobres a trabalharem e contribuírem por mais tempo para poderem se aposentar e com salários mais baixos) recentemente foi aprovada na câmara dos deputados e certamente será, também, no senado, tudo diante de uma população em transe e dividida. Parte da população demonstra revolta nas redes sociais ou em manifestações pacíficas que não fazem “cócegas” no governo e outra parcela ainda apoia Bolsonaro que insiste em proferir “barbaridades” e se aproxima cada vez mais da tirania nomeando milicos para vários setores do governo até mesmo para os Correios.

A classe trabalhadora está narcotizada (o peleguismo dos pseudo partidos de “Esquerda” e centrais sindicais, as igrejas evangélicas que proliferam nas periferias, a mídia privada de massa, tudo isso colabora para o estado de apatia da classe trabalhadora) e as organizações políticas que se autodenominam “Esquerda” não esboçam reação ao desmonte dos serviços públicos e das conquistas do povo brasileiro. O Brasil naufraga “a olhos vistos”.