sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Explicando, de forma muito didática, como funciona o "conchavo" entre a "elite" dirigente e as empresas privadas, no Brasil capitalista.







Um dos maiores problemas da política (ou seria politicagem ? ) brasileira é que partidos e candidatos a cargos eletivos recebem financiamento privado de campanha, são patrocinados por empresas privadas que depois (se o sujeito ou partido vencer a eleição) vão cobrar o investimento realizado.
Os políticos em sua maioria (aparentemente todos os eleitos, quem sabe com algumas raríssimas exceções) estão comprometidos com as empresas privadas que os patrocinaram; se o Estado não funciona bem e o patrimônio público é administrado "porcamente", isso é o reflexo de uma estratégia capitalista de controle de mercado.

Exemplo:
A Empresa X que explora o mercado de "serviços de manutenção em estradas de rodagem ou rodovias" e lucra com a cobrança de pedágios, patrocina o candidato Fulaninho do Partido da Abobrinha. Fulaninho consegue fazer uma campanha vistosa e, com o auxílio de um bom "marqueteiro", pago com a grana emprestada pela Empresa X , consegue enganar os trouxas eleitores. Fulaninho, então, vence a eleição para um cargo eletivo importante e seu partido está agora no governo. A Empresa X começa a cobrar do Fulaninho e de seu medíocre e sacana Partido, exige que "dê o retorno" ao investimento feito na campanha. De forma "curiosa" o povão começa a notar que Fulaninho não está cumprindo suas promessas de campanha e que não asfaltou adequadamente as estradas como havia prometido.
As estradas começam a se deteriorar, Fulaninho mente que não há dinheiro para arrumar as estradas por culpa do governo anterior ( que fez algo parecido), mesmo que o dinheiro dos impostos pagos pelos "eleitores iludidos" seja mais do que o suficiente para isso ... As estradas se deterioram cada vez mais , muitos buracos surgem e, então, a solução apresentada por Fulaninho e seu Partido da Abobrinha ( que , esqueci de falar, é aliado, coligado com outras gangues partidárias tão sujas quanto) é a de recorrer a "tão milagrosa e prestativa" iniciativa privada. O governo de Fulaninho e seu Partideco, decidem "privatizar" (disfarçada muitas vezes de concessão)  as estradas, antes administradas pelo Estado, é aberto um edital de licitação, já previamente armado para a Empresa X vencer, e tãtãtãtã: temos agora a Empresa X ganhando milhões com a cobrança de pedágio dos "otários eleitores" (que pagam imposto sobre combustível, imposto do automóvel e uma série de outros impostos) que votaram no Fulaninho e em seu Partido da Abobrinha. Agora, a Empresa X (e seus acionistas de "bolsos cheios", muitos deles estrangeiros) está feliz e garante já um novo futuro patrocínio ao Fulaninho que vai tentar  reeleição e enrolar novamente o pobre povo iludido. E a história continua... Essa é a "maravilha" do capitalismo!

P.Vinícius

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Fascismo e Nazismo são ideologias de Extrema Direita.





Uma resposta (para leigos "não" fanáticos) rápida, sobre a pergunta: "Hitler (e o nazismo) era comunista ?"

Há uma tentativa apelativa de comparação entre a proposta comunista (e ou socialista) e o nazismo (ou fascismo alemão).
Muitos identificam o nazismo com o socialismo, usando como argumento "bobo" o nome do partido nazista. Embora, o nome do partido liderado por Hitler, fosse "Partido Nacional Socialista Alemão" ( sim o nome do partido era esse, lembre que, classificar a ideologia defendida e posta em prática por um grupo, apenas pelo nome ou legenda do partido, é uma grande ingenuidade; se fosse apenas pelo nome, então, teríamos que afirmar que, por exemplo,  o PDS dos anos 80 no Brasil -antes ARENA, hoje PP- foi um partido democrático e preocupado com questões sociais, o que não é o caso, já que todo cientista político sabe que o antigo Partido Democrático Social foi contra o movimento "Diretas Já! " e representava apenas os interesses dos grandes latifundiários e empresários que apoiavam a ditadura militar); basta uma breve análise da história do nazismo para ver com clareza que o discurso , a ideologia e a ação do "Partido Nacional Socialista Alemão" (que antes ainda teve o nome de "Partido dos Trabalhadores da Alemanha), nada tinham a ver com socialismo. Colocar o movimento socialista, e sua história, no mesmo patamar do infame nazismo, é um erro grosseiro, fruto de desinformação ou de "má intenção".
Afirmar que os nazistas eram "comunistas" seria o mesmo que alguém montar uma "associação de ateus" e sair pregando a palavra da bíblia, ou seja, uma coisa "sem sentido algum", abaixo veremos os motivos.

-Stalinismo, também, pouco tem a ver com Socialismo ( antes que alguém mencione as supostas "atrocidades da ditadura soviética"). Na maioria das vezes as opiniões ficam "na superfície da superfície".
Temos aí a diferença básica entre o uso de um termo e o que ele realmente representa; uma ideologia usada como propaganda é diferente de uma ideologia tomada como base de ação, por exemplo:
.Seria inconcebível um regime socialista combinado ao racismo ; os nazistas pregavam a superioridade de uma raça (conceito ultrapassado, hoje o correto do ponto de vista antropológico seria "etnia"; para a biologia, também, raça não existe entre humanos ),os nazistas pregavam o racismo, como poderiam ser comunistas !? Para o socialismo, em qualquer uma de suas vertentes, não há diferença ou grau de superioridade "étnico" entre trabalhadores (se alguém se diz socialista e sugere superioridade de "raça" entre trabalhadores , certamente não compreendeu bem o socialismo ou está muito equivocado...).


. Os nazistas eram radicalmente nacionalistas, o que vai contra o internacionalismo comunista; cultuavam um líder e a cúpula de um partido, seguindo uma exagerada disciplina militar, o que vai contra o socialismo original;  lembre que o partido nazista ainda chegou ao poder perseguindo comunistas (o episódio do Incêndio ao parlamento Alemão, cometido por militantes nazistas,  onde comunistas foram injustamente responsabilizados, é um exemplo) e com o apoio da burguesia alemã da época, que temia o avanço do socialismo na Europa.

.No regime nazista, empresas capitalistas foram mantidas sob controle de seus donos; todos os empresários que reconheciam o "regime", e em prol desse trabalharam, receberam apoio do Estado e continuaram com seus privilégios, já os descendentes de famílias judaicas, e ou opositores ao regime, foram perseguidos, perderam suas posses ou foram presos em campos de concentração; na Alemanha nazista (ou mesmo na Itália fascista) não havia nem sombra da proposta socialista de "autogestão" das indústrias por trabalhadores e sindicatos ou "coletivização dos meios de produção";
.Críticas similares as que fazemos ao "nazismo" ,também, valem para qualquer outro governo onde um líder máximo se perpetue no poder com o apoio de um Partido forte e hegemônico que acaba por se tornar o único no país (ex URSS com Stálin e Mao na China...) , mas, isso nada tem a ver com socialismo em nenhuma de suas versões tradicionais, nem mesmo a versão marxista! Os regimes totalitários que adotaram o nome de "socialismo" e ou "comunismo" e são classificados erroneamente como "socialismo real", além da propaganda ideológica, estão muito distantes do socialismo, mas, para perceber isso é preciso vencer a preguiça e ler um pouco, pesquisar os clássicos do pensamento socialista e não se restringir ao "materialismo histórico dialético".

(É verdade que na URSS experiências socialistas foram postas em prática em alguns momentos da história do regime soviético, porém, ao analisarmos pontos básicos nas propostas socialistas tradicionais notamos que faz muito mais sentido classificarmos o modelo soviético como um regime ditatorial de "Extrema Esquerda" e que poucas semelhanças teve com o ideal socialista, embora, para alguns, foi uma tentativa, uma experiência de realização socialista, frustrada. Muitas informações que temos sobre a ex URSS são confusas e passam muitas vezes pela interferência de ideologias, tanto as que fazem apologia - a propaganda oficial do Estado soviético, por exemplo -  , quanto as que criticam ou criticaram esse regime, isso foi muito comum durante o auge da guerra fria e ainda hoje temos dificuldades de encontrarmos informações confiáveis sobre o que "de fato" aconteceu durante o período stalinista, visto que os "embates ideológicos" entre Esquerda e Direita parecem perdurar ainda vigorosamente).

-O culto a um "ícone" ou líder, não combina com o socialismo, portanto, cultuar Marx (lembrando que esse pensador não foi o fundador do socialismo, que já existia como movimento mesmo antes de Marx se assumir como "socialista" ) ou qualquer outro pensador , não faz da pessoa um defensor da teoria socialista, temos aí mais um desvio da proposta socialista. É possível que pensadores autodenominados socialistas tenham, em algum momento, cometido erros ou afirmado coisas que vão contra a proposta socialista original, isso pode acontecer e acontece o tempo todo entre humanos, mas, pelo simples fato que "o culto a uma personalidade não faz parte da proposta socialista ", levar "ao pé da letra" o que algum proeminente pensador declarou, sem crítica alguma, idolatrando como a um "mito", seria desviar-se do socialismo.

-Tomar Estados totalitários como exemplo de "comunismo", também, não faz o menor sentido , pois: o Comunismo é uma etapa posterior a um processo socialista de transformação social , dissolução da luta de classes e do Estado, não há (e não existiu) exemplos de comunismo real em grandes territórios. Podemos, porém,  encontrar exemplos de comunismo entre comunas anarquistas e o comunismo primitivo de povos indígenas que ainda preservam culturas tradicionais, bem como algumas temporárias experiências socialistas em alguns países já governados por partidos defensores da ideologia socialista ou nas tentativas de tomada do poder pela classe trabalhadora através de revoltas populares (como durante a "Comuna de Paris" , por exemplo) .

-Há sim algumas semelhanças entre regimes totalitários de Extrema Esquerda e regimes totalitários de Extrema Direita, mas, há, também, diferenças importantes que irão determinar a classificação ideológica desses regimes: tanto na Extrema Esquerda quanto na Extrema Direita se destaca a figura de um líder carismático, visto como guia do povo, "um salvador da nação" que atrai a atenção de multidões (na ex URSS era Stálin, na Itália fascista Mussolini, na Alemanha Nazista era Hitler); tanto na E. Esquerda quanto na E.Direita há um partido único no poder controlando o Estado com poderes absolutos e impondo sua ideologia para toda a sociedade; em ambos os extremos há perseguição violenta contra opositores e se escolhe um inimigo para desviar a atenção das falhas do governo e direcionar a energia da população ("judeus e comunistas" para os nazistas; os "inimigos capitalistas e traidores da revolução" para os soviéticos) ; em ambos os extremos o Estado impõe uma rígida disciplina militar e doutrinação ideológica profunda; há investimentos bélicos pesados em ambos os extremos; há nacionalismo , ufanismo tanto na E. Esquerda quanto na E.Direita; há hierarquia de poder e os membros que estão nos postos mais elevados do partido no poder são cultuados como grandes líderes e vivem dos benefícios da exploração do trabalho do resto da população.
E quais são as diferenças? Na E, Esquerda a economia é planificada, todas as indústrias e meios de produção em geral passam pelo controle do Estado, há o uso da ideologia socialista , deturpada como propaganda de Estado (que nunca se realiza como deveria) para ludibriar a população. Na Extrema Esquerda o racismo não faz parte da propaganda ideológica oficial, a eugenia não é um programa estatal. Já na E. Direita, há racismo violento; eugenia como projeto de transformação étnica da sociedade; defesa de uma ideologia "elitista" ("os mais fortes devem governar e subjugar os fracos") ; empresas capitalistas continuam atuando e se tornam até mais fortes, aliadas ao regime (na Alemanha Nazista, a Basf, que hoje produz agrotóxicos , fazia na época gás para câmaras de gás dos campos de concentração; a Volkwagen fabricou o fusca seguindo pedidos de Hitler, a Bayer cresceu durante esse regime, etc) ; os regimes fascistas perseguiram comunistas e pregavam ojeriza a essa ideologia...

-Outro equívoco tem a ver com o termo "ditadura do proletariado": essa expressão tem uso meramente terminológico na teoria do "materialismo histórico dialético". Para Marx , enquanto houvesse Estado , teríamos a ditadura de uma classe sobre as demais. Em um Estado onde predomina o modo de produção capitalista, é a classe burguesa que usa o Estado para oprimir as demais, temos a ditadura do capital. Mas, mesmo em um Estado controlado por trabalhadores, teríamos uma ditadura , já que ainda há Estado, então, no socialismo, os trabalhadores no poder ( a maioria da população), deveriam (na perspectiva marxista) usar o Estado para promover transformações na sociedade que possibilitassem o aumento do poder dos trabalhadores, autogestão, e o fim gradual da necessidade do próprio Estado, até que não houvessem mais diferenças entre classes, e chegaríamos dessa forma no sonhado "comunismo" ; isso nada tem a ver com nazismo, seria um absurdo, como vimos, traçar paralelos entre nazismo e comunismo!

-É importante destacarmos, frisarmos bem, o conceito de Comunismo (já mencionado acima), para que fique bem claro: Comunismo é a etapa posterior a uma transformação socialista da sociedade (seja de cunho marxista ou anarquista) onde o Estado será superado e substituído pela auto-gestão e coletivização dos meios de produção, com o fim da divisão hierárquica da sociedade (tanto econômica quanto de poder político) e, portanto, fim das classes sociais. Sendo assim podemos ver claramente que não faz o menor sentido comparar "comunismo" com regimes totalitários fascistas, pois, no comunismo nem mesmo deve existir um Estado.


-Para fechar: você pode até dizer que comunismo é um "sonho utópico" que jamais irá se consolidar , pois, seria necessário um alto estágio de esclarecimento da população humana mundial, etc; mas, por favor, não cometa a "asneira" de afirmar que nazismo é a mesma coisa que comunismo, isso é de uma estupidez assombrosa!



Paulo Vinícius
(Professor de Filosofia e Sociologia )